quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Produção com a raça Anglonubiana

 

Existem algum sistemas de produção que são “universais”: basicamente, os sistemas intensivos, lembrando que intensivo não é sinônimo de confinado, e sim de elevado de elevado nível tecnológico, e consequentemente de investimento e de produtividade. Isso vale tanto para leite quanto para carne, e é um raciocínio similar ao que se vê tanto para bovinos de corte quanto de leite, para aves, para suínos e para qualquer animal de produção.

No bovino de leite é fácil exemplificar: um “free stall” é praticamente igual em qualquer parte do mundo. A instalação é basicamente a mesma em, com detalhes em cada região para ajustar a temperatura nos vários ambientes, mas das regiões mais frias às mais quentes, das mais secas às mais úmidas do mundo, cria-se vacas holandesas alimentadas à base de silagem e elevadas proporções de concentrados, basicamente milho e soja. As vacas são da raça holandesa, que têm que produzir no mínimo 10 vezes o próprio peso em uma lactação, o que significa 6 a 8.000 kg de leite em lactações de 10 meses ou mais. Há uma tendência a operações grandes, acima de 200 vacas, pois a margem por L de leite produzido é baixa, então é necessária a produção de uma grande quantidade de unidades. Como os animais são levados ao extremo de seu potencial produtivo, as questões reprodutivas e sanitárias são críticas, tanto que frquentemente as vacas duram 2, no máximo 3 lactações. Em regiões praticamente desérticas dos Estados Unidos, em regiões que ficam meses embaixo de neve no norte do mundo, em regiões próximas ao equador, quentes e úmidas, enfim, esse sistema existe e funciona eficientemente em qualquer parte do mundo, apenas com ajustes basicamente nas instalações para se acomodar às diferentes características de cada região. Qual o volume de dejetos produzido por unidade de área e seu impacto ambiental? Quanto se exige das vacas e consequentemente qual o respeito a “qualidade de vida” delas? No nosso gigantesco, no nosso continental país, free stall é assim também. E com isso é possível produzir grandes quantidades de leite por vaca em qualquer parte do Brasil. A questão é: essa é a única forma de se produzir leite de vaca no Brasil? É a melhor forma?

E com a bovinocultura de corte? Avicultura? Suinocultura?

E com a caprinocultura? É possível produzir tão intensamente. É, sim, possível produzir grande quantidades de leite por cabra e por unidade de área em qualquer parte do mundo, e ai obviamente o Brasil está incluído, basta que se corrijam as condições ambientais nas instalações, que se forneça a alimentação adequada, e que se enfrentem os problemas sanitários e reprodutivos de sistemas tão limítrofes. Eu já produzi assim: no final de 2007 nossas jovens Saanens, basicamente de 1ª e 2ª cria, produziam em média mais de 5 kg de leite/cabra/dia, tendo chegado a 6 kg/cabra/dia em um dado momento, e com uma boa condição sanitária e reprodutiva, mas logicamente à base de volumoso de excelente qualidade e concentrados de primeira qualidade e em enormes quantidade praticamente à vontade, até mesmo com uma certa restrição no volumoso para levar a uma maior ingestão de concentrados. Errado? Talvez não. O erro é achar que esse é o único modelo...

A segunda questão: vale a pensa, é a melhor alternativa, qualquer que seja a região do país e consequentemente sua condição ambiental, seja para produzir alimentos, seja para manter o necessário conforto para as cabras se aproximarem do seu limite produtivo? É aceitável quando se pensa nos animais? Nas questões ambientais? Para essas questões, não tenho uma única resposta...

Andando um pouco pelo mundo e vendo os sistemas de produção em uma dúzia de países, como Argentina, Austrália, Canadá, Chile, Cuba, Espanha, Estados Unidos, França, Guatemala, Nova Zelândia, México e Uruguai, países, com os mais variados sistemas de produção, as mais diversas condições ambientais, e as mais heterogenias condições econômicas que se possa imaginar; e passando por todos os estados das regiões Sul, Sudeste, Centro Oeste e Nordeste e alguns estados da região Norte do Brasil, onde também se vê as mais inimagináveis diferenças, não é difícil perceber que não existe uma única forma de produzir, não há um único sistema, uma única raça, uma única resposta para muitas perguntas que podemos listar aqui.

Visitando exposições por muitos desses lugares, e depois visitando as criações, observa-se uma inacreditável diferença entre os animais, entre suas características, entre a condição dos animais apresentados nas exposições e nos presentes nas propriedades.

Toda essa experiência me fez refletir muito, e chegar a uma primeira conclusão: não existe um único sistema de produção, e não existe um melhor sistema de produção. Existem diferentes sistemas de produção, cada qual mais adequado a cada objetivo, a cada condição, e mesmo assim, todos eles sujeitos a críticas, a questionamentos e, dentro de certos limites, a alterações e adequações a cada momento, de acordo com as diferenças tecnológicas, conceituais e filosóficas que surgem a todo momento.

Pensando em tudo isso, e acompanhando as tendências e o dinamismo do mercado e a diversidade de possibilidades, somados à curiosidade e à inquietude de um pesquisador, fascinado por aprender, seja com a experiência daqueles que estão a mais tempo na estrada, seja na vivência do dia a dia de um criatório, veio a idéia de mudar tudo, sair de um sistema “universal”, devidamente desenvolvido, estruturado e equilibrado, enfim, estabilizado, para algo completamente novo, começando tudo de novo.

Foi quando mudamos para as Anglonubianas, que não são melhores do que as Saanen, nem piores, apenas são diferentes. Tudo com elas é diferente: a aparência é a diferença mais evidente, mas talvez seja o menos relevante: a produção de leite é diferente, em quantidade, qualidade e características de lactação; a reprodução é diferente, principalmente em sazonalidade e prolificidade; a rusticidade; o mercado... Tantas diferenças levam obrigatoriamente a um sistema de produção diferente. Criar Anglonubianas não é melhor do que criar Saanen, mas também não é pior. Mas é diferente, a, isso é, e bem diferente...

Produzir leite com cabras Anglonubianas

Produzir leite com cabras Anglonubianas é diferente de produzir leite com Saanens. Embora se possa produzir leite com Anglonubianas em confinamento, em condições ambientais favoráveis conseguidas com instalações sofisticadas, e consequentemente caras, alimentação de excelente qualidade, e consequentemente cara, manejo esmerado e consequentemente caro, pode-se produzir muito leite com Anglonubianas. Um leite com mais sólidos, mas em quantidade inferiores ao que se produz com Saanens. O pico pode ser alto, mas a persistência não se compara. A Anglonubiana pode estar presente nesses sistemas, sim, melhorando a qualidade do leite e produzindo em épocas críticas, devido à composição de seu leite e de suas peculiaridades reprodutivas, mas esse é o território das Saanens, não das Anglonubianas. Dizer que uma cabra Anglonubiana deve produzir pelo menos 800 kg por lactação de 305 dias é uma visão no mínimo limitada, senão equivocada. Esse raciocínio vale para Saanen, mas não para Anglonubianas. Duas lactações de 800 kg em 305 dias significa produzir 1.600 kg de leite em 2 anos e portanto 192 kg de sólidos e 3 cabritos; com as Anglonubianas é possível se produzir três lactações de 500 kg em 180 dias cada totalizando 1.500 kg de leite e portanto 210 kg de sólidos e 6 cabritos... Se pensarmos em cabras Saanen de 1.200 kg de leite, teremos 2.400 kg de leite, 288 kg de sólidos e os mesmos 3 cabritos. Ai passamos para o território da Saanen, e nos resta apenas questionar os custos, pois uma cabra que produz 1.200 kg come mais do que uma cabra que produz 800 kg, exige mais cuidados, e como está sob um maior desafio, certamente é um animal mais susceptível a problemas sanitários e provavelmente acabará sua vida produtiva mais cedo.

E se o sistema de produção for mais rústico, instalações mais simples, comida mais básica, manejo mais trivial? A Anglonubiana produzirá os mesmos 1.500 kg de leite, ou pouco menos, os mesmo 210 kg de sólidos, ou pouco mais, os mesmo 6 cabritos; nessas condições, provavelmente as Saanens não produzirão nem os 1.600 kg de leite, um pouco menos do que os 192 kg de sólidos e possivelmente os mesmos 3 cabritos.

Vamos piorar um pouco mais o sistema? A produção das Saanens irá diminuir? Com certeza... E a das Anglonubianas? Também, sim, mas ainda produzirá alguma coisa...

Vamos piorar um pouco mais? As Anglonubianas produzirão bem menos, se é que produzirão alguma coisa, mas provavelmente ao menos irão sobreviver, e quando as condições melhorarem, estarão por lá, prontas para voltarem à ativa... E as Saanen, será que produzirão alguma coisa? Será que sobreviverão?

Produzir carne com cabras Anglonubianas

Quando se prensa em produção de carne, normalmente são lembradas algumas características típicas dos machos: ganho de peso, conformação e rendimento de carcaça. E ai a raça Boer parece ser altamente competitiva...

E as características maternas?

Antes de desmamar um belo cabrito, obviamente ele precisa nascer. Assim, a fertilidade é fundamental. Para produzir mais cabritos ao longo do tempo, a fêmea deve dar mais partos ao longo do tempo, e consequentemente precisa ser menos sazonal, para que tenha um intervalo de partos de menos de 12 meses. Um de 15 kg, 2 de 12 ou 3 de 10? Mas adianta nascerem 2 ou 3 cabritos se a mãe não tiver leite para fornecer para eles? Assim, embora a Anglonubiana também possa ter um bom ganho de peso, uma boa conformação de carcaça e um bom ganho de peso, seus principais destaques estão em seu comportamento reprodutivo (fertilidade e prolificidade) e produção de leite, o alimento dos cabritos... O que é melhor, um bom cabrito, dois medianos ou três um pouco mais leves?

Mas para uma produtividade como essa, tem que ter comida...

E se a condição for um pouco pior?

Talvez seja preferível uma prolificidade um pouco mais baixa, para que a cabra desmame um cabrito de 12 kg, ou talvez 2 de 10 kg.

E se a situação piorar um pouco mais?

A desmama de um cabrito de 10 kg é o máximo que se pode esperar, e ai não faz muita diferença a produtividade das raças, é muito mais relevante a sua adaptação à condição adversa... Nessa situação, colocar uma raça mais produtiva, seja para pai, seja para mãe, provavelmente muito pouco irão ajudar, se é que não vão atrapalhar...

Os cruzamentos

Um assunto a parte são os cruzamentos, sejam para a produção de leite, sejam para a produção de carne. Além das qualidades de cada uma das raças, há os benefícios da complementariedade (a soma das qualidades de cada raça), e a heterose (um ganho adicional decorrente das diferenças das raças). Assim, em sistemas comerciais de produção de leite ou de carne, talvez o melhor caminho seja a utilização de cruzamentos, e isso vale para sistemas de tecnologia moderada no leite e em boas e médias situações na produção de leite. Em ótimas condições para produção de leite, o caminho é a utilização de raça leiteira especializada. Em condições adversas, seja para produção de leite, seja para produção de carne, antes de produzir, os animais precisam sobreviver. Nessas situações, o quesito raça perde bastante em relevância, e quanto mais produtiva ela for, mais inadequada ela se torna...

O Sertão do São Francisco

Quando me perguntam a quantos anos eu crio cabras, costumo brincar: todos... E é a mais pura verdade, desde criança convivo com as cabras, e direcionei minha formação profissional para a caprinocultura. Também trabalho com ovinos, um pouco com bovinos e até com bubalinos, enfim, ruminantes em geral, e com pastagens, principalmente para ruminantes, mas também para eqüinos, mas não da para negar, a menina dos olhos é a caprinocultura. E da minha geração eu acho que sou dos poucos que permanece fiel às cabras...

Como já mencionado no início da matéria, tive o privilégio de andar um pouco pelo mundo, e viver algumas experiências inesquecíveis:

- Sinto como se fosse hoje o momento em que entrei em um galpão na França onde vi 2.400 cabras Saanens e Alpinas que produziam cerca de 7.000 L de leite dia. Isso mesmo, 7.000 L de leite de cabra diários...

- Outra lembrança forte foi um lote de cerca de 400 cabritas Boer de 6 a 8 meses de idade que vi na Nova Zelândia

- E a terceira lembrança, que tenho mencionado como das mais fortes para mim, foram os 120 animais Anglonubianos das 30 Progênies de Pai da Nacional de, salvo engano, 2004, quando a Exposição Nacional foi em Teresina, onde tive o privilégio de julgar na companhia do colega Wilson Goslan e de minha querida amiga Kiky. Uma visão fantástica!

Mas nada, nada disso se compara ao que eu via agora em julho, quando passei uns dias na região de Juazeiro-BA: nunca vi tanta cabra na minha vida... E, talvez a principal, nunca vi a cabra com tamanha importância como nessa região. As pessoas vivem da cabra. As que não vivem diretamente, vivem indiretamente. Algumas só têm a cabra como fonte de renda. Mesmo quem tem outras alternativas, tem a cabra também... Se não tem, teve. Se não tem, nem teve, terá...

Com a hospitalidade característica e incomparável dos nordestinos, fui conhecer Uauá, a terra do bode, um sonho antigo do meu pai, que tive a oportunidade de realizar por ele, e, óbvio, por mim mesmo, e onde comecei a entender um pouco do significado da cabra para a região, já no trajeto de Juazeiro a Uauá. Também fui a Casa Nova e a Curaçá. Com isso passei por 4 dos 10 municípios que compõe a região do Sertão do São Francisco, onde 10 municípios reúnem 2 milhões de caprinos e 1,5 milhão de ovinos, totalizando 3,5 milhões de cabeças. Apenas para que se tenha uma referência do que isso significa, todo o estado de São Paulo tem algo como 0,5 milhão de caprinos e ovinos... O que temos em todo o estado onde vivo e trabalho, representa cerca de 15% do rebanho de apenas 10 municípios da Bahia...

E o que havia em comum na maioria dos animais que vi: em maior ou menor proporção, a raça Anglonubiana estava presente... Pouquíssimos animais das ditas raças nativas, alguns animais de raças especializadas, tanto Saanen quanto Boer, mas apenas em alguns poucos rebanhos melhor organizados e estruturados. No Sertão mesmo, animais cruzados, das mais variadas composições raciais, mas a grande maioria das vezes com algum sinal da raça Anglonubiana.

Foi a primeira vez que visitei uma região onde a cabra é, de fato, importante, e reconhecida como tal.

Ficou mais claro do que nunca a importância da raça Anglonubiana para a caprinocultura brasileira, e quanto os animais ali necessários são diferentes dos que vemos nas exposições.

Considerações finais

A produção de carne se intensificará nas regiões mais adversas, e para melhorar ainda mais seus resultados e se ajustar às exigências cada vez maiores dos consumidores, provavelmente se associará às regiões mais favorecidas, com a cria no Sertão e a recria e terminação na região mais próxima do São Francisco, em áreas irrigadas, em atividade solteira ou integrada à agricultura irrigada.

Acredito também no desenvolvimento da caprinocultura leiteira, ainda incipiente, mas com um enorme potencial para as áreas irrigadas, para a produção de leite para uso na merenda escolar e a melhoria da saúde infantil da região, e para a produção de queijos finos, que acompanharão muito bem a crescente produção de vinhos finos que acontece por lá, formando uma “dobradinha” imbatível, com uma troca de benefícios altamente atrativa para o turismo que se desenvolve na região, e mesmo para exportação, tanto para outras regiões do país como para o exterior.

A carne de cabrito e o leite e os queijos com leite de cabra têm tudo para mudar a realidade da região...

E nenhuma outra raça se encaixará tão bem nesse projeto Anglonubiana, nenhuma outra raça tem tanto a contribuir com esse desenvolvimento da região e com a melhoria da qualidade de vida dessa população tão sofrida, mas mesmo assim, composta por pessoas felizes e hospitaleiras, que merecem uma melhor qualidade de vida.

Esse ano infelizmente não irei à Nacional, que torço, com toda força e sinceridade, que seja plena em sucesso. Não sei quais são os animais que estarão por lá, mas acredito que será a maior exposição da raça Anglonubiana de todos os tempos. Acredito que a Grande Campeã será uma cabra adulta com mais de 100 kg, talvez com 120; o Grande Campeão, facilmente terá 120 kg, talvez mais... Não duvido que esses animais sejam provenientes de parto simples, e não acredito que tenham sido criados exclusivamente pelas suas mães. Se nasceram de parto múltiplo, foram criados sozinhos, com suplementação desde o nascimento. Serão verdadeiros atletas, que freqüentaram academia desde jovens, nadando e fazendo esteira. Se forem para leilão, e provavelmente irão, ultrapassarão os R$50.000... Bom para muitos...

Alguma coisa contra? Acho que não...

O que vou fazer, então?

Vou tentar trabalhar na Anglonubiana no qual acredito: vou para o Sertão do São Francisco, onde a cabra tem que produzir, e em condições nem sempre favoráveis, muito pelo contrário...

Em setembro o Capril Capritec estará na Região do Sertão do São Francisco, onde pretendemos participar desse desenvolvimento que a caprinocultura irá experimentar por lá. Em um futuro próximo, essa será não apenas a região de maior concentração de caprinos do Brasil. Na verdade, isso ela já é...

Será também a região mais importante, com o maior desenvolvimento, será o coração da caprinocultura brasileira.

Em termos raciais, a base mais encontrada na região já é a Anglonubiana, mas a inserção de animais melhorados, com foco na produtividade, com uma reprodução eficiente, fertilidade e prolificidade, uma boa conformação funcional, com tamanho mediano e bons aprumos e conformação de úbere, enfim, animais funcionais, a Anglonubiana na qual acreditamos, terá muito a contribuir nesse processo.

Vou tentar...

Vamos para lá?

Enviado por: Zeca Gertner

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Produção com a raça Anglonubiana

 

Existem algum sistemas de produção que são “universais”: basicamente, os sistemas intensivos, lembrando que intensivo não é sinônimo de confinado, e sim de elevado de elevado nível tecnológico, e consequentemente de investimento e de produtividade. Isso vale tanto para leite quanto para carne, e é um raciocínio similar ao que se vê tanto para bovinos de corte quanto de leite, para aves, para suínos e para qualquer animal de produção.

No bovino de leite é fácil exemplificar: um “free stall” é praticamente igual em qualquer parte do mundo. A instalação é basicamente a mesma em, com detalhes em cada região para ajustar a temperatura nos vários ambientes, mas das regiões mais frias às mais quentes, das mais secas às mais úmidas do mundo, cria-se vacas holandesas alimentadas à base de silagem e elevadas proporções de concentrados, basicamente milho e soja. As vacas são da raça holandesa, que têm que produzir no mínimo 10 vezes o próprio peso em uma lactação, o que significa 6 a 8.000 kg de leite em lactações de 10 meses ou mais. Há uma tendência a operações grandes, acima de 200 vacas, pois a margem por L de leite produzido é baixa, então é necessária a produção de uma grande quantidade de unidades. Como os animais são levados ao extremo de seu potencial produtivo, as questões reprodutivas e sanitárias são críticas, tanto que frquentemente as vacas duram 2, no máximo 3 lactações. Em regiões praticamente desérticas dos Estados Unidos, em regiões que ficam meses embaixo de neve no norte do mundo, em regiões próximas ao equador, quentes e úmidas, enfim, esse sistema existe e funciona eficientemente em qualquer parte do mundo, apenas com ajustes basicamente nas instalações para se acomodar às diferentes características de cada região. Qual o volume de dejetos produzido por unidade de área e seu impacto ambiental? Quanto se exige das vacas e consequentemente qual o respeito a “qualidade de vida” delas? No nosso gigantesco, no nosso continental país, free stall é assim também. E com isso é possível produzir grandes quantidades de leite por vaca em qualquer parte do Brasil. A questão é: essa é a única forma de se produzir leite de vaca no Brasil? É a melhor forma?

E com a bovinocultura de corte? Avicultura? Suinocultura?

E com a caprinocultura? É possível produzir tão intensamente. É, sim, possível produzir grande quantidades de leite por cabra e por unidade de área em qualquer parte do mundo, e ai obviamente o Brasil está incluído, basta que se corrijam as condições ambientais nas instalações, que se forneça a alimentação adequada, e que se enfrentem os problemas sanitários e reprodutivos de sistemas tão limítrofes. Eu já produzi assim: no final de 2007 nossas jovens Saanens, basicamente de 1ª e 2ª cria, produziam em média mais de 5 kg de leite/cabra/dia, tendo chegado a 6 kg/cabra/dia em um dado momento, e com uma boa condição sanitária e reprodutiva, mas logicamente à base de volumoso de excelente qualidade e concentrados de primeira qualidade e em enormes quantidade praticamente à vontade, até mesmo com uma certa restrição no volumoso para levar a uma maior ingestão de concentrados. Errado? Talvez não. O erro é achar que esse é o único modelo...

A segunda questão: vale a pensa, é a melhor alternativa, qualquer que seja a região do país e consequentemente sua condição ambiental, seja para produzir alimentos, seja para manter o necessário conforto para as cabras se aproximarem do seu limite produtivo? É aceitável quando se pensa nos animais? Nas questões ambientais? Para essas questões, não tenho uma única resposta...

Andando um pouco pelo mundo e vendo os sistemas de produção em uma dúzia de países, como Argentina, Austrália, Canadá, Chile, Cuba, Espanha, Estados Unidos, França, Guatemala, Nova Zelândia, México e Uruguai, países, com os mais variados sistemas de produção, as mais diversas condições ambientais, e as mais heterogenias condições econômicas que se possa imaginar; e passando por todos os estados das regiões Sul, Sudeste, Centro Oeste e Nordeste e alguns estados da região Norte do Brasil, onde também se vê as mais inimagináveis diferenças, não é difícil perceber que não existe uma única forma de produzir, não há um único sistema, uma única raça, uma única resposta para muitas perguntas que podemos listar aqui.

Visitando exposições por muitos desses lugares, e depois visitando as criações, observa-se uma inacreditável diferença entre os animais, entre suas características, entre a condição dos animais apresentados nas exposições e nos presentes nas propriedades.

Toda essa experiência me fez refletir muito, e chegar a uma primeira conclusão: não existe um único sistema de produção, e não existe um melhor sistema de produção. Existem diferentes sistemas de produção, cada qual mais adequado a cada objetivo, a cada condição, e mesmo assim, todos eles sujeitos a críticas, a questionamentos e, dentro de certos limites, a alterações e adequações a cada momento, de acordo com as diferenças tecnológicas, conceituais e filosóficas que surgem a todo momento.

Pensando em tudo isso, e acompanhando as tendências e o dinamismo do mercado e a diversidade de possibilidades, somados à curiosidade e à inquietude de um pesquisador, fascinado por aprender, seja com a experiência daqueles que estão a mais tempo na estrada, seja na vivência do dia a dia de um criatório, veio a idéia de mudar tudo, sair de um sistema “universal”, devidamente desenvolvido, estruturado e equilibrado, enfim, estabilizado, para algo completamente novo, começando tudo de novo.

Foi quando mudamos para as Anglonubianas, que não são melhores do que as Saanen, nem piores, apenas são diferentes. Tudo com elas é diferente: a aparência é a diferença mais evidente, mas talvez seja o menos relevante: a produção de leite é diferente, em quantidade, qualidade e características de lactação; a reprodução é diferente, principalmente em sazonalidade e prolificidade; a rusticidade; o mercado... Tantas diferenças levam obrigatoriamente a um sistema de produção diferente. Criar Anglonubianas não é melhor do que criar Saanen, mas também não é pior. Mas é diferente, a, isso é, e bem diferente...

Produzir leite com cabras Anglonubianas

Produzir leite com cabras Anglonubianas é diferente de produzir leite com Saanens. Embora se possa produzir leite com Anglonubianas em confinamento, em condições ambientais favoráveis conseguidas com instalações sofisticadas, e consequentemente caras, alimentação de excelente qualidade, e consequentemente cara, manejo esmerado e consequentemente caro, pode-se produzir muito leite com Anglonubianas. Um leite com mais sólidos, mas em quantidade inferiores ao que se produz com Saanens. O pico pode ser alto, mas a persistência não se compara. A Anglonubiana pode estar presente nesses sistemas, sim, melhorando a qualidade do leite e produzindo em épocas críticas, devido à composição de seu leite e de suas peculiaridades reprodutivas, mas esse é o território das Saanens, não das Anglonubianas. Dizer que uma cabra Anglonubiana deve produzir pelo menos 800 kg por lactação de 305 dias é uma visão no mínimo limitada, senão equivocada. Esse raciocínio vale para Saanen, mas não para Anglonubianas. Duas lactações de 800 kg em 305 dias significa produzir 1.600 kg de leite em 2 anos e portanto 192 kg de sólidos e 3 cabritos; com as Anglonubianas é possível se produzir três lactações de 500 kg em 180 dias cada totalizando 1.500 kg de leite e portanto 210 kg de sólidos e 6 cabritos... Se pensarmos em cabras Saanen de 1.200 kg de leite, teremos 2.400 kg de leite, 288 kg de sólidos e os mesmos 3 cabritos. Ai passamos para o território da Saanen, e nos resta apenas questionar os custos, pois uma cabra que produz 1.200 kg come mais do que uma cabra que produz 800 kg, exige mais cuidados, e como está sob um maior desafio, certamente é um animal mais susceptível a problemas sanitários e provavelmente acabará sua vida produtiva mais cedo.

E se o sistema de produção for mais rústico, instalações mais simples, comida mais básica, manejo mais trivial? A Anglonubiana produzirá os mesmos 1.500 kg de leite, ou pouco menos, os mesmo 210 kg de sólidos, ou pouco mais, os mesmo 6 cabritos; nessas condições, provavelmente as Saanens não produzirão nem os 1.600 kg de leite, um pouco menos do que os 192 kg de sólidos e possivelmente os mesmos 3 cabritos.

Vamos piorar um pouco mais o sistema? A produção das Saanens irá diminuir? Com certeza... E a das Anglonubianas? Também, sim, mas ainda produzirá alguma coisa...

Vamos piorar um pouco mais? As Anglonubianas produzirão bem menos, se é que produzirão alguma coisa, mas provavelmente ao menos irão sobreviver, e quando as condições melhorarem, estarão por lá, prontas para voltarem à ativa... E as Saanen, será que produzirão alguma coisa? Será que sobreviverão?

Produzir carne com cabras Anglonubianas

Quando se prensa em produção de carne, normalmente são lembradas algumas características típicas dos machos: ganho de peso, conformação e rendimento de carcaça. E ai a raça Boer parece ser altamente competitiva...

E as características maternas?

Antes de desmamar um belo cabrito, obviamente ele precisa nascer. Assim, a fertilidade é fundamental. Para produzir mais cabritos ao longo do tempo, a fêmea deve dar mais partos ao longo do tempo, e consequentemente precisa ser menos sazonal, para que tenha um intervalo de partos de menos de 12 meses. Um de 15 kg, 2 de 12 ou 3 de 10? Mas adianta nascerem 2 ou 3 cabritos se a mãe não tiver leite para fornecer para eles? Assim, embora a Anglonubiana também possa ter um bom ganho de peso, uma boa conformação de carcaça e um bom ganho de peso, seus principais destaques estão em seu comportamento reprodutivo (fertilidade e prolificidade) e produção de leite, o alimento dos cabritos... O que é melhor, um bom cabrito, dois medianos ou três um pouco mais leves?

Mas para uma produtividade como essa, tem que ter comida...

E se a condição for um pouco pior?

Talvez seja preferível uma prolificidade um pouco mais baixa, para que a cabra desmame um cabrito de 12 kg, ou talvez 2 de 10 kg.

E se a situação piorar um pouco mais?

A desmama de um cabrito de 10 kg é o máximo que se pode esperar, e ai não faz muita diferença a produtividade das raças, é muito mais relevante a sua adaptação à condição adversa... Nessa situação, colocar uma raça mais produtiva, seja para pai, seja para mãe, provavelmente muito pouco irão ajudar, se é que não vão atrapalhar...

Os cruzamentos

Um assunto a parte são os cruzamentos, sejam para a produção de leite, sejam para a produção de carne. Além das qualidades de cada uma das raças, há os benefícios da complementariedade (a soma das qualidades de cada raça), e a heterose (um ganho adicional decorrente das diferenças das raças). Assim, em sistemas comerciais de produção de leite ou de carne, talvez o melhor caminho seja a utilização de cruzamentos, e isso vale para sistemas de tecnologia moderada no leite e em boas e médias situações na produção de leite. Em ótimas condições para produção de leite, o caminho é a utilização de raça leiteira especializada. Em condições adversas, seja para produção de leite, seja para produção de carne, antes de produzir, os animais precisam sobreviver. Nessas situações, o quesito raça perde bastante em relevância, e quanto mais produtiva ela for, mais inadequada ela se torna...

O Sertão do São Francisco

Quando me perguntam a quantos anos eu crio cabras, costumo brincar: todos... E é a mais pura verdade, desde criança convivo com as cabras, e direcionei minha formação profissional para a caprinocultura. Também trabalho com ovinos, um pouco com bovinos e até com bubalinos, enfim, ruminantes em geral, e com pastagens, principalmente para ruminantes, mas também para eqüinos, mas não da para negar, a menina dos olhos é a caprinocultura. E da minha geração eu acho que sou dos poucos que permanece fiel às cabras...

Como já mencionado no início da matéria, tive o privilégio de andar um pouco pelo mundo, e viver algumas experiências inesquecíveis:

- Sinto como se fosse hoje o momento em que entrei em um galpão na França onde vi 2.400 cabras Saanens e Alpinas que produziam cerca de 7.000 L de leite dia. Isso mesmo, 7.000 L de leite de cabra diários...

- Outra lembrança forte foi um lote de cerca de 400 cabritas Boer de 6 a 8 meses de idade que vi na Nova Zelândia

- E a terceira lembrança, que tenho mencionado como das mais fortes para mim, foram os 120 animais Anglonubianos das 30 Progênies de Pai da Nacional de, salvo engano, 2004, quando a Exposição Nacional foi em Teresina, onde tive o privilégio de julgar na companhia do colega Wilson Goslan e de minha querida amiga Kiky. Uma visão fantástica!

Mas nada, nada disso se compara ao que eu via agora em julho, quando passei uns dias na região de Juazeiro-BA: nunca vi tanta cabra na minha vida... E, talvez a principal, nunca vi a cabra com tamanha importância como nessa região. As pessoas vivem da cabra. As que não vivem diretamente, vivem indiretamente. Algumas só têm a cabra como fonte de renda. Mesmo quem tem outras alternativas, tem a cabra também... Se não tem, teve. Se não tem, nem teve, terá...

Com a hospitalidade característica e incomparável dos nordestinos, fui conhecer Uauá, a terra do bode, um sonho antigo do meu pai, que tive a oportunidade de realizar por ele, e, óbvio, por mim mesmo, e onde comecei a entender um pouco do significado da cabra para a região, já no trajeto de Juazeiro a Uauá. Também fui a Casa Nova e a Curaçá. Com isso passei por 4 dos 10 municípios que compõe a região do Sertão do São Francisco, onde 10 municípios reúnem 2 milhões de caprinos e 1,5 milhão de ovinos, totalizando 3,5 milhões de cabeças. Apenas para que se tenha uma referência do que isso significa, todo o estado de São Paulo tem algo como 0,5 milhão de caprinos e ovinos... O que temos em todo o estado onde vivo e trabalho, representa cerca de 15% do rebanho de apenas 10 municípios da Bahia...

E o que havia em comum na maioria dos animais que vi: em maior ou menor proporção, a raça Anglonubiana estava presente... Pouquíssimos animais das ditas raças nativas, alguns animais de raças especializadas, tanto Saanen quanto Boer, mas apenas em alguns poucos rebanhos melhor organizados e estruturados. No Sertão mesmo, animais cruzados, das mais variadas composições raciais, mas a grande maioria das vezes com algum sinal da raça Anglonubiana.

Foi a primeira vez que visitei uma região onde a cabra é, de fato, importante, e reconhecida como tal.

Ficou mais claro do que nunca a importância da raça Anglonubiana para a caprinocultura brasileira, e quanto os animais ali necessários são diferentes dos que vemos nas exposições.

Considerações finais

A produção de carne se intensificará nas regiões mais adversas, e para melhorar ainda mais seus resultados e se ajustar às exigências cada vez maiores dos consumidores, provavelmente se associará às regiões mais favorecidas, com a cria no Sertão e a recria e terminação na região mais próxima do São Francisco, em áreas irrigadas, em atividade solteira ou integrada à agricultura irrigada.

Acredito também no desenvolvimento da caprinocultura leiteira, ainda incipiente, mas com um enorme potencial para as áreas irrigadas, para a produção de leite para uso na merenda escolar e a melhoria da saúde infantil da região, e para a produção de queijos finos, que acompanharão muito bem a crescente produção de vinhos finos que acontece por lá, formando uma “dobradinha” imbatível, com uma troca de benefícios altamente atrativa para o turismo que se desenvolve na região, e mesmo para exportação, tanto para outras regiões do país como para o exterior.

A carne de cabrito e o leite e os queijos com leite de cabra têm tudo para mudar a realidade da região...

E nenhuma outra raça se encaixará tão bem nesse projeto Anglonubiana, nenhuma outra raça tem tanto a contribuir com esse desenvolvimento da região e com a melhoria da qualidade de vida dessa população tão sofrida, mas mesmo assim, composta por pessoas felizes e hospitaleiras, que merecem uma melhor qualidade de vida.

Esse ano infelizmente não irei à Nacional, que torço, com toda força e sinceridade, que seja plena em sucesso. Não sei quais são os animais que estarão por lá, mas acredito que será a maior exposição da raça Anglonubiana de todos os tempos. Acredito que a Grande Campeã será uma cabra adulta com mais de 100 kg, talvez com 120; o Grande Campeão, facilmente terá 120 kg, talvez mais... Não duvido que esses animais sejam provenientes de parto simples, e não acredito que tenham sido criados exclusivamente pelas suas mães. Se nasceram de parto múltiplo, foram criados sozinhos, com suplementação desde o nascimento. Serão verdadeiros atletas, que freqüentaram academia desde jovens, nadando e fazendo esteira. Se forem para leilão, e provavelmente irão, ultrapassarão os R$50.000... Bom para muitos...

Alguma coisa contra? Acho que não...

O que vou fazer, então?

Vou tentar trabalhar na Anglonubiana no qual acredito: vou para o Sertão do São Francisco, onde a cabra tem que produzir, e em condições nem sempre favoráveis, muito pelo contrário...

Em setembro o Capril Capritec estará na Região do Sertão do São Francisco, onde pretendemos participar desse desenvolvimento que a caprinocultura irá experimentar por lá. Em um futuro próximo, essa será não apenas a região de maior concentração de caprinos do Brasil. Na verdade, isso ela já é...

Será também a região mais importante, com o maior desenvolvimento, será o coração da caprinocultura brasileira.

Em termos raciais, a base mais encontrada na região já é a Anglonubiana, mas a inserção de animais melhorados, com foco na produtividade, com uma reprodução eficiente, fertilidade e prolificidade, uma boa conformação funcional, com tamanho mediano e bons aprumos e conformação de úbere, enfim, animais funcionais, a Anglonubiana na qual acreditamos, terá muito a contribuir nesse processo.

Vou tentar...

Vamos para lá?

Enviado por: Zeca Gertner

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Efeito da Suplementação Energética sobre o Desempenho e Economicidade da Terminação de Cabritos a Pasto

 

Introdução
Os rebanhos de caprinos no Nordeste, em sua grande maioria, destinam-se ao autoconsumo e mercado local. Paralela a essa realidade há um mercado crescente de carne caprina por essa apresentar teores de gordura, proteína, ferro e calorias, semelhante a carne de frango (Leite, 2004) que é considerada uma das mais saudáveis. O mercado tem sinalizado para o consumo de carne de animais jovens abatidos com até seis meses de idade. No entanto, nas condições de produção praticadas no Nordeste, o que se observa é o abate de animais velhos e com baixa qualidade e rendimento de carcaça. Diante desse cenário, a criação de caprinos de corte para comercialização do produto surge como alternativa para a geração de renda em comunidades rurais no Nordeste do Brasil.


Um dos grandes limitantes para a produção animal nessa região é a estacionalidade produtiva, causada pela falta de forragem no pasto nativo por um período que pode ser superior a oito meses. O uso de pastos cultivados tem possibilitado a terminação de até quatro lotes por ano, com lotações de até 60 ovinos/ha e ganhos de até 280g/cab dia em ovinos (Silva et al., 2004). Com caprinos, os ganhos em geral são mais modestos. No entanto, o uso de
suplementação associado ao uso de animais geneticamente superiores, pode melhorar esses índices. O objetivo principal deste trabalho foi determinar o efeito da suplementação sobre o desempenho de cabritos ½ Bôer:SRD e a eficiência econômica dessa tecnologia sobre a terminação de cabritos a pasto.

Material e Métodos
O experimento foi conduzido na fazenda Santa Rita, campo experimental da Embrapa Caprinos localizado na cidade de Sobral no Ceará, no final da estação seca de 2004 e inicio da estação chuvosa de 2005. Foi usada a lotação rotativa para o manejo dos pastos (Tabela 1). Como era época seca foi utilizada irrigação por meio do sistema convencional de aspersão com canhões hidráulicos. O pasto foi dividido em oito piquetes de 625m2, totalizando 0,5 ha, e foi feito o pastejo em faixas, ou seja, as cercas internas eram móveis, sendo mudadas de local sempre que os animais mudavam de piquete. O pasto a cada saída dos animais de piquete. Foi utilizada a quantidade de 64,2 kg de uréia e 18,7 kg/ha ano de Cloreto de Potássio durante o período experimental.

Tabela 1 – Informações referentes ao manejo do pasto de
capim-tanzânia utilizado na terminação de cabritos.

image

No pasto foram distribuídos cochos de sal mineral e água para os animais experimentais. Foram utilizados 30 cabritos ½ Bôer: SRD, recém-desmamados, pesando em média 17 kg, com quatro meses de idade. Todos os animais foram vermifugados antes de entrar no pasto e tiveram o controle de verminoses realizado através do método de contagem de OPG (ovos por grama de fezes). Por esse método, a vermifugação é realizada em todos os animais, quando o exame de 10 % do rebanho, apresentar 800 OPG.

Foi fornecida uma suplementação energética composta por milho triturado. O milho triturado oferecido possuía 9% de proteína bruta (PB), 17 % de fibra em detergente neutro (FDN) e 9% de FDA. Estima-se que os animais receberam, em média, uma dieta com aproximadamente 16% de proteína bruta e 80% de NDT.

O delineamento experimental foi inteiramente casualizado. Os tratamentos consistiam em cinco níveis de suplementação (0 %, 0,5 %; 1,0 %; 1,5 % e 2,0% do peso vivo), com seis repetições por tratamento.

Avaliou-se por meio de pesagens a cada 14 dias, o ganho de peso. O consumo era medido diariamente, quando os animais recebiam a suplementação. A suplementação era fornecida uma vez ao dia, no horário de 13 h às 16 h, horário em que os animais não estavam pastejando. Os dados foram submetidos à análise de variância. Os
parâmetros significativos pelo teste F, foram submetidos à análise de regressão.


Para avaliar o impacto da suplementação sobre a receita bruta, foram utilizadas equações de regressões, estimandose o nível de suplementação ótimo e comparando com o tratamento sem suplementação, para analisar o retorno econômico dessa tecnologia.

Tabela 2 – Consumo e ganho de peso de cordeiros suplementados com diferentes níveis de suplementação em pasto de capim-tanzânia.

image

Resultados e Discussão


Nesse experimento, foram utilizados animais ½ Bôer:1/2 SRD. Na literatura (Sousa, 1998), a média de peso dos machos Bôer puros tem ficado em torno de 25kg aos 100 dias. Neste trabalho, utilizando animais mestiços, foramobtidos pesos finais próximos a 24 kg, mostrando também o potencial da raça em animais F1 Boer:SRD.

No entanto, para que o animal manifeste seu potencial genético, é necessário que o ambiente seja propício para tal. Nesse experimento, os animais mantidos em pasto cultivado (teor de PB 12%, conforme Tabela 1), dispunham de forragem em quantidade suficiente para atendersuas demandas nutricionais de mantença e algum ganho. Essa afirmação pode ser comprovada pela observação do desempenho dos animais que não receberam suplementação (Tabela 2). Esses animais ganharam em média 51 g/dia, o que é bastante expressivo, principalmente na Região Nordeste, onde normalmente os animais perdem peso ao final da estação seca.


A suplementação a energética é uma ferramenta que pode ser utilizada para dar melhor acabamento a animais em terminação (Paulino, 2001), aumentando o ganho de peso diário e reduzindo o tempo de terminação. Nesse experimento, observou-se efeito quadrático (p<0,05) desse tipo de suplementação sobre o peso vivo (Tabela 2). Pela equação de regressão, o máximo peso seria obtido se os animais consumissem 1,45% do peso vivo em suplemento. Nesse nível, o ganho médio diário, que também apresentou comportamento quadrático (p<0,05), ficaria em torno de 83g/cab dia. Esse desempenho se comparado a de ovinos nas mesmas condições (Silva et al., 2004), é baixo. O que mostra, mesmo havendo a introdução de uma raça especializada para corte, que esses animais ainda precisam ser melhorados geneticamente para obter um desempenho melhor. A maioria dos ensaios com desempenho de caprinos é feita em confinamento e nesses trabalhos há relatos de desempenhos superiores a 150g/dia (Sheridam et al., 2003) Entre os aspectos que determina essa superioridade,além da composição da dieta, as exigências de mantença de animais em pastejo são maiores que as exigências nutricionais de animais mantidos em confinamento.

A principal implicação do baixo desempenho obtido neste trabalho, mesmo com uso de suplementação, é de ordem econômica. Nesse experimento, mesmo o ganho de peso e o peso vivo apresentando um comportamento quadrático, o consumo se manteve linear (Tabela 2). Isso significa que, consumindo quantidades cada vez maiores de concentrado, os custos tendem a aumentar sem que haja retorno em termos de desempenho animal. Os dados obtidos com análise da receita bruta da suplementação encontram-se na Tabela 3. É possível observar que ambos os tratamentos se equivaleram, ou seja, nessas condições
não seria economicamente vantajosa a suplementação. Pois, ao incluir como custo o salário de um manejador e mais encargos sociais, o custo da suplementação aumentaria em R$ 1.080,00, além dos custos com o suplemento em si, tornando mais viável fazer terminação de cabritos somente com pasto.

É importante destacar que, se o preço do suplemento for menor, ou se houver uma valorização no preço da carne, em função de propriedades funcionais (Leite, 2004), por exemplo, pode ser que o uso da suplementação seja de fato uma vantagem para sistemas de terminação de cabritos em pastagens cultivadas.

Tabela 3 – Simulação do impacto da suplementação sobre a receita bruta final de um lote de cabritos terminados em um
hectare de pasto cultivado.

image

Conclusões
O uso da suplementação energética nas condições desse experimento, apesar de apresentar resposta biológica positiva com aumentos de ganho de peso, não foi viável economicamente. Em outras condições, onde o preço do suplemento seja mais baixo e/ou o preço do peso vivo seja maior, talvez essa alternativa possa ser economicamente viável.

Fonte: Comunicado Técnico On line 73 – EMBRAPA

Autores: Ana Clara Rodrigues Cavalcante, Marco Aurélio Delmondes Bomfim, Enéas Reis Leite

terça-feira, 13 de setembro de 2011

DESCOMPLICANDO O USO DA CONSANGUINIDADE

A consanguinidade é um método de seleção, que tem como finalidade fixar caractetisticas desejáveis no plantel, sendo definida como sendo o grau de parentesco entre animais que têm ancestrais em comum.

Todavia, muito se comenta quanto aos riscos da prática subjetiva da consanguinidade, sem embasamento zootécnico. De fato, os resultados tanto poderão ser positivos, com base na fixação de caracteres desejáveis, de acôrdo com o programa seletivo, como também resultados negativos, com base na exteriorização de defeitos.

Geralmente, os defeitos manifestam-se em estado de homozigose recessiva. Como a consanguinidade favorece o emparelhamento de genes semelhantes, o resultado tambem poderá ser o emparelhamento dos genes recessivos.

O quanto um filhote é consanguíneo é determinado pela medida do Índice de consaguinidade (I.C.), o qual pode ser calculado através da seguinte formula:

. ........................ (NP + NM)
I.C. = soma de (½) (np+nm) x (½)

NP - numero de gerações paternas, entre o pai do animal até o ancestral comum

NM – numero de gerações maternas, entre a mãe do animal até o ancestral comum que serviu de referência para o calculo do NP

O Índice de Consanguinidade (I.C.) amentará no caso de ser identificado na genealogia mais de um ancestral em comum. Neste caso, os cálculos do NP e NM devem ser feitos em separado para cada ancestral em comum, e o I.C. será o somatório.

Os acasalamentos consanguineos frequentemente praticados estão relacionados na tabela abaixo:

TIPO DE ACASALAMENTO

image

Como pode ser notado pela análise da tabela anterior, o Índice de Consanguinidade geralmente será metade do grau de parentesco, exceto nos casos de haver no pedigree mais de um ancestral em comum.
Vejamos como exemplo o parentesco entre pai e filha que é de 50%, porque a filha recebe 50% da bagagem genética do pai e 50% da bagagem genética da mãe. Porém, o I.C. será de 25%. Este mesmo exemplo é ilustrado na árvore genealógica abaixo e aplicando a fórmula de cálculo do I.C.
                D
        B
                C
A
                E
          C
                 F

NP = 1  
NM = 0 
             (1 + 0)
I.C. =   ½             X   ( ½ )
I.C. = ¼ = 25%

image

Os riscos da consanguinidade não podem ser 100% evitados, mas podem ser minimizados, através de um programa de acasalamento zootecnicamente analisado. O mérito genético dos ancestrais deve ser considerado como um todo – morfologia, andamento, docilidade, treinabilidade, fertilidade.

Em paralelo, o grau de parentesco dos animais envolvidos no processo reprodutivo também deve ser avaliado, tendo como objetivo evitar a prática de consanguidade estreita.

Em casos de plantéis consanguineos, o método de seleção deve ser o oposto, ou seja, com base na heterose, pelo menos em uma ou duas gerações sucessivas.

Infelizmente, devido ao mal uso da consanguinidade, um numero significativo de selecionadores não alcançam resultados satisfatórios no melhoramento das proles anuais.

Autor: Lúcio Sérgio de Andrade

Fonte: Equicenter Publicações

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Cuidados com o rebanho de caprinos e ovinos na estação de chuva

 

Na região Nordeste, onde está concentrado o maior rebanho caprino e metade do rebanho ovino do País, a vegetação da caatinga é constituída de espécies que perdem suas folhas no início da estação seca. Quando começa a chover, há uma rebrota intensa das árvores e arbustos o que aumenta a oferta de alimentos para os animais.

A pesquisadora Nilzemary Lima da Silva explica que no período das chuvas, além de alimentos com maior valor nutritivo, os rebanhos dispõem de maior quantidade de forragem. "Os animais selecionam suas dietas na caatinga. Se forem dadas condições de livre escolha, os ovinos preferem gramíneas e outras herbáceas, enquanto os caprinos consomem maior quantidade de folhas de árvores e arbustos", afirma.

Durante o período das chuvas os produtores precisam ficar atentos aos cuidados específicos que devem ser adotados com o rebanho para evitar prejuízos. Pesquisadores da Embrapa Caprinos e Ovinos, em Sobral, no Ceará, alertam para o manejo sanitário e alimentar nesta época do ano. De acordo com o pesquisador Fernando Alvarenga Reis, é no período chuvoso que as condições de calor e umidade favorecem a proliferação de doenças no rebanho, o que tende a se agravar na medida em que aumenta o número de animais por área. "As doenças vão atingir os animais em pasto ou confinamento que não possuam condições ideais de instalação", afirma Reis.

O mais fatal e oneroso problema continua sendo a verminose. Os principais sintomas são diminuição do apetite, perda de peso, pêlos arrepiados, os animais aparentam aspecto de cansados e ficam constantemente deitados e isolados em função da forte anemia. Sintomas parecidos também ocorrem com a coccidiose ou eimeriose, causada por protozoários.

Outros problemas comuns em condições de umidade são a podridão dos cascos, causado por bactérias, e ceratoconjuntivite (lacrimejamento e opacidade dos olhos). "Existem também as clostridioses e as pasteurelose para as quais são recomendadas vacinações específicas de acordo com um calendário e orientações dos laboratórios que produzem estas vacinas", explica o pesquisador.

Ele afirma que o controle de verminose é feito com o monitoramento por exames de fezes e cor da mucosa ocular. Deve-se vermifugar os animais assim que aparecerem os primeiros sintomas e adotar o rodízio de pastos respeitando o período mínimo de desocupação e descontaminação.

"Usar rebanho bovino para pastejar a área dá bons resultados porque bovinos e ovinos não partilham os mesmos parasitas", explica. Para a podridão dos cascos existem vacinas, mas sua eficácia é relativa. Casos têm sido relatados que ora funcionam, ora não e parecem surtir melhor efeito a partir da terceira e quarta aplicação. A ceratoconjuntivite deve ser prevenida com a adoção de cuidados higiênicos. "É importante existir na propriedade um local para isolamento dos animais acometidos por qualquer tipo de doença", afirma Reis.

Os pesquisadores recomendam uma reserva de alimento de forma a que o rebanho possa receber um bom acompanhamento nutritivo no período de estiagem. E nesse caso, o ideal é que o produtor aproveite o período de chuvar para preparar o alimento para o rebanho. "Deve-se armazenar alimentos de boa qualidade por meio dos processos de fenação e ensilagem, com isso o produtor poderá fazer a suplementação alimentar a fim de evitar a perda de peso dos animais. Outra vantagem é a possibilidade de produzir no período de entresafra estabilizando a disponibilidade de produtos de ovinos e caprinos para o mercado", explica Nilzemary.

Outra opção é a formação de um banco de proteínas, que deve ser constituído de leguminosas como a Leucena, Gliricídia e Jurema Preta. "Estamos falando de forrageiras para as condições do semi-árido nordestino. Para outras regiões são outras plantas para as quais há manejos diferenciados e condições específicas de produção, mas que também podem ser armazenadas em forma de fenação e ensilagem".

A forrageira para feno deve ter alto teor de proteína (leguminosas), agradável ao paladar; deve ser cortada antes da floração e de acordo com o intervalo de corte apropriado. Após o corte, a forragem deve ser espalhada em camada fina, para secagem uniforme. No caso de leguminosas, a secagem deverá ser feito à sombra, para se reduzir a queda das folhas. A forragem deve ser revirada periodicamente, para facilitar a secagem. Observar o ponto de feno e acondicionar em fardos, em sacos ou medas.

Para se conseguir uma silagem de boa qualidade, deve-se atentar para o valor nutritivo da forrageira e rendimento de quilograma de massa verde por hectare. Entre as gramíneas, destacam-se o milho, o sorgo e o capim-elefante. A forrageira deve ser cortada sempre antes da floração e de acordo com o intervalo de corte apropriado. No caso de milho ou sorgo, efetua-se o corte quando os grãos estiverem de leitosos a farináceos. O transporte da forragem para o local do silo é uma operação onerosa. Assim, deve-se escolher o local do silo em função da localização da área de produção da forragem e do estábulo. O material deve ser triturado e desintegrado, a fim de permitir uma melhor compactação e uma maior exposição para a fermentação. A compactação é a fase mais importante no processo da ensilagem. A vedação deve ser completa, a fim de proteger a silagem contra a penetração de água e de ar.

Fonte: Nordeste Rural

sábado, 18 de junho de 2011

A carne de bode está fazendo sucesso nos Estados Unidos

 

A carne de bode, quem diria, está fazendo sucesso nos Estados Unidos. Na retrospectiva 2008 da “Time”, ela figura entre uma das tendências da gastronomia. Embora seja relativamente difícil de ser encontrada naquele país, segundo a revista, sua carne magra vem conquistando comensais, e algumas propriedades da Califórnia já criam animais para fins comerciais, permitindo que chefs sirvam em seus restaurantes pratos como linguiça de bode e cabrito assado.


Apesar de a relação de parentesco não estar explícita nos nomes, cabrito é a cria do bode; o animal jovem, com carne mais úmida e menos gordurosa. No Nordeste e em alguns restaurantes de cozinha regional em São Paulo, como o Mocotó, o bode atrai a atenção no cardápio, mas é o cabrito quem entra na panela. A brincadeira é um resquício do tempo em que se costumava abater animais velhos o que desencadeou, também, a fama de ser uma carne malcheirosa.


Para o pesquisador Evandro Vasconcelos Holanda Júnior, da Embrapa Caprinos e Ovinos, o preconceito deriva provavelmente de questões culturais, do odor característico dos animais de idade avançada e do fato de a espécie ser explorada em áreas de baixo desenvolvimento os rebanhos se concentram no Nordeste do país, onde a carne é mais apreciada. “Hoje, contudo, vem aumentando o abate de animais jovens, ea carne caprina passa a ser vista como saudável em função de sua composição nutricional”, afirma.
Um dos maiores diferenciais da carne caprina é o baixo teor de gordura: a cada 100 gramas, contém 2,76 gramas, contra 3,75 gramas na de frango sem pele e 17,14 gramas na bovina. Também é uma carne rica em ferro, mineral cuja carência pode causar anemia e atraso no desenvolvimento das crianças: são 3,54 gramas, o dobro da quantia encontrada na carne de frango.


Os caprinos foram domesticados por volta do século 8º aC, na mesma época que os ovinos, no sudoeste da Ásia. Ao Brasil, chegaram com os colonizadores portugueses, no século 16.


No Entre Amigos são muitas opções com carne de cabrito, entre elas o Pernil Baby Marinado no vinho e ervas finas que utiliza um corte especial do pernil do animal. O prato está participando no Festival Brasil Sabor que segue até o dia 31 de maio.


Fonte: portal GP1

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Uma História Breve do Anglo-Nubiano leiteiro na America do Norte

 

A partir de meados do século 19 até 1896 os franceses e britânicos trouxeram cabras exóticas de seus impérios coloniais para os zoológicos de seus países. Os detalhes são totalmente especulativos, mas alguns desses caprinos ou seus descendentes foram para mãos privadas e passaram a ser chamados (na Grã-Bretanha)  "Núbiana" (Nubian), relativo ao império antigo da África equatorial. Existem importações conhecidas de Nubianas da França para a Inglaterra em 1878 e1891, e muitos outros cabrinos exóticos foram comprados de navios de comércio (que as utilizaram para leite e carne à bordo) e encontraram seu caminho para a piscina genética da "cabra comum Inglesa ".


1896 Caprinos Jumna Pari foram importadas para a Inglaterra especificamente para fins de reprodução. Caprinos tipo Nubianas são importadas para a América da Inglaterra, mas os registros não foram mantidos.


1904-1910 Um grupo de criadores começa a desenvolver o "Anglo-Nubiano" usando deliberadamente bodes importados de Zaraibi (Africa), Chitral (Índia) e outros caprinos tipo o nubiano equatoriais.

1910-1911 A raça "Núbiana", é reconhecida, um livro genealógico se iniciou com 459 animais, e o padrão da raça foi estabelecido. Nos próximos dois anos foi permitido que 61 animais fossem considerados como base da raça.


1909-1913 Sr. J.R. Gregg importou um total de cinco Anglo-Núbianas para a Califórnia, o que instituiu um programa de melhoramento registrado que produziu 40 Nubianas registrados em 1917.


1917-1921  A primeira importação de Anglo Nubianas da Inglaterra para o Canadá pelo Major D.C. Mowat estabeleceu um programa de melhoramento genético com registro lá. Filhos são importados para os EUA, incluindo a Spring Beauty Anderson, a primeira cabra Nubiana nos EUA a se qualificar para um AR (status de estrela leiteira) em 1924. As compras americanas das canadenses importadas e das Anglo-Nubianas continuaram a ter um grande impacto sobre as Nubianas nos EUA até o final da década de 1940.


1924-1930 Progressos rápidos na raça Nubiana no Canadá continuaram com o desenvolvimento do rebanho Shirley do Sr e da Sra H. G. Monson na British Columbia, o primeiro rebanho cujas cabras ordenhadas consistentemente produziam mais de 2.000 quilos de leite em uma lactação. Cabras do rebanho Shirley foram importados para os EUA para o rebanho Imperial (Nebraska) e Wheelbarrow Hill (Pensilvânia). Imperial produziu o reprodutor Creamy's Lad, um dos primeiros reprodutores Nubiano a ganhar uma AR e a pedra fundamental do rebanho Oakwoods. O rebanho The Wheelbarrow Hill de Emma Hill Trego Fell cruzou o rebanho leiteiro "Shirley"com animais vistosos, como a cabra Malpas Merridew que ela importou da Grã-Bretanha.


Of particular impact are the Chikaming herd of Mr./Mrs. Carl Sandburg (yes, the poet) which was founded in Michigan and moved to North Carolina, and the Cape May herd of Mrs.Elizabeth Buch in New Jersey. Both made extensive use of Oakwoods, Shirley, and Wheelbarrow Hill breeding.

1932-1943 O rebanho Oakwoods é iniciado pela Sra. V.E. Thompson no Missouri e se mudou para a Califórnia onde se cruzou com os descendentes da importação original dos EUA (1913), com resultados espetaculares. Animais de Wheelbarrow Hill também são comprados e levados para a Califórnia. Ao mesmo tempo, o resto do país alcançava um rápido progresso com mais algumas importações britânicas e canadenses que chegaram até a véspera da segunda guerra mundial. De grande impacto, foi o rebanho Chikaming do Sr. & Sra. Carl Sandburg (sim, o poeta) que foi fundado em Michigan e se mudou para a Carolina do Norte, e o rebanho Cape May da Sra.Elizabeth Buch, em Nova Jersey. Ambos utilizaram de forma extensiva Oakwoods, Shirley, e Wheelbarrow Hill.

Fonte: A Very Brief History of the Nubian Dairy Goat in America in timeline form by Norm Jacobs Caprifield Farm, Yamhill, Oregon
with thanks to Alice Hall and Mrs. Robert Reinhardt

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Algaroba para comer e beber

Por Thiago Romero (Agência FAPESP)

Uma leguminosa com alto valor nutritivo, que não exige muita água e nem solos férteis para frutificar, tem se mostrado uma importante fonte alternativa para a alimentação humana.


Originária dos Andes peruanos, a algaroba (Prosopis juliflora) produz uma vagem rica em proteínas, fibras, sais minerais, carboidratos e açúcares. No Brasil, desde a década de 1940, as vagens do vegetal têm servido para produção de ração de animais. No município de Serra Branca, no semi-árido paraibano, por exemplo, a ração beneficiada com algaroba é responsável por 90% da alimentação de caprinos e ovinos e por cerca de 20% do rebanho bovino.


Um estudo feito na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) tem avaliado o potencial econômico e social da algaroba no semi-árido. A pesquisa mostra a versatilidade da leguminosa também para consumo humano, com grande potencial para produção de artigos como farinha, pães, biscoitos, bolo, mel, vinagre e aguardente.
A algaroba possibilita um leque muito amplo de oportunidades. Por isso, ela é conhecida como planta mágica do Nordeste. Como bebida láctea, por exemplo, ela pode ser servida junto à merenda escolar em regiões carentes´, explica o engenheiro de alimentos Clóvis Gouveia da Silva, principal autor da pesquisa, à Agência FAPESP.


Por não exigir muita água, a algaroba apresenta bom rendimento mesmo nos períodos de seca. A leguminosa supera o trigo e o milho em proteínas e aminoácidos. Segundo a Embrapa Semi-Árido, a espécie também possui uma estrutura biológica que ajuda na fixação do nitrogênio ao solo e na recuperação de áreas degradadas. Por outro lado, se não for bem manejada, a algaroba é capaz de invadir hábitats naturais e inibir a regeneração das espécies de caatinga, reduzindo a biodiversidade vegetal do bioma.
Silva depositou três pedidos de patentes com derivados da algaroba no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). Um deles, a aguardente de algaroba bidestilada envelhecida em barris de carvalho, foi indicado para concorrer ao Prêmio Finep de Inovação Tecnológica 2006.


Além do incentivo à indústria de alimentos, Silva estuda ainda a produção de álcool combustível. ´Devido aos altos teores de açúcares que podem sofrer fermentação, presentes na vagem da algaroba, estamos analisando a construção de uma minidestilaria de álcool que poderá servir como alternativa para a entressafra de cana-de-açúcar´, conta.


Fonte: Emater-RN

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Melhoramento Genético de Caprinos no Brasil

Por Wandrick Hauss de Sousa, Olivardo Facó e Milton Daniel Benitez Ojeda
Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S.A. e Embrapa Caprinos e Ovinos

Resumo
Esse trabalho apresenta os principais problemas e potencialidades da Caprinocultura de corte e leite  no Brasil, no que concerne ao melhoramento genético e também descreve a situação atual, em termos estratégicos, programas de melhoramento existentes, demanda do setor, recursos genéticos disponíveis, nível tecnológico empregado nos programas, perspectivas do setor. Recomendações para ações aos órgãos de desenvolvimento e fomento envolvidos na Caprinocultura também são discutidas. As discussões  serão apresentadas com o objetivo de permitir um  melhor entendimento da atual situação da atividade, bem como  o papel fundamental que representa o melhoramento genético dessa espécie para a consolidação desse segmento no País.

Palavras-chave: caprinos de corte,  caprinos leiteiros,  carne, pele, mercado, qualidade da carne, cadeia produtiva


Introdução
No Brasil, cresce a demanda por carne e leite caprino. Acompanhando essa demanda, crescem também as  cobranças por melhores produtos o que demanda dos criadores, uma mudança  na maneira de produzir.  Ante esse  cenário, criadores e produtores  de  caprinos, principalmente do Nordeste precisam melhorar o potencial genético de seus rebanhos para atender, a médio e longo prazo, as demandas dos mercados com produtos de qualidade. Isto inclui também a necessidade da utilização de reprodutores e matrizes com potencial genético capaz de produzir progênies que atendam as exigências desse mercado. Portanto, o melhoramento genético tem papel importante neste processo, por ser um dos principais instrumentos para identificação de animais superiores.


Uma  das formas de  melhorar  a produtividade dos caprinos no Brasil é através  do melhoramento genético abalizado na seleção de indivíduos com maior ganho de peso, conversão alimentar, rendimento de carcaça, produção de leite e melhor precocidade sexual.


A eficiente multiplicação desses animais superiores proporciona maior  lucratividade na atividade. No entanto, a multiplicação e disseminação desse material genético somente são possíveis com um adequado programa de melhoramento genético.

Situação atual
Apesar do baixo nível tecnológico ainda presente em todo processo produtivo, a Caprinocultura no Brasil, principalmente no Nordeste, tem apresentado formas que a coloca numa posição estratégica no cenário do agronegócio e nos programas sociais de combate a pobreza no campo. Isto está respaldado no incremento do consumo interno de carne, leite e da demanda dos curtumes por peles de qualidade, bem como na percepção de oportunidades de negócio que a atividade tem oferecido. De acordo com o último censo agropecuário de 2006 (BRASIL, 2009), o rebanho caprino brasileiro é da ordem de 7.107.608 cabeças, estando concentrado na região Nordeste (91%),  , onde são criados, na sua maioria, sob sistemas de produção poucos tecnificados, utilizando animais com baixo potencial genético para atender as exigências do mercado consumidor em termos de regularidade e qualidade.


Para Sousa (2003) apesar de ser ainda muito baixo  o consumo de carne caprina no Brasil, nos últimos anos, observam-se sinais de crescimento, principalmente nas grandes cidades, mas  ainda  faltam regularidade e qualidade de animais para produção de carcaças exigidas pelo mercado. Enquanto o consumo per capita é estimado em menos de 1,0 kg, o consumo em países Árabes e da Europa varia de 4,0 a 8,0 kg. Somente nos últimos anos, a carne e caprina está sendo encontrada em supermercados, açougues e restaurantes finos das grandes cidades, quebrando o paradigma do consumo apenas rural e em pequenas cidades do interior (Couto 2001). Com isso verificou-se também a implantação de agroindústrias, notadamente frigoríficos e abatedouros em todo Brasil. Sousa (2003)  comenta que a produção de peles de caprinos são atividades complementares. De fato, dependendo do mercado, a pele de boa qualidade pode agregar até 20% do valor do produto final (animal destinado ao abate) pago ao produtor (Couto Filho, 1999). A escassez de carne e pele faz com que abatedouros, frigoríficos e curtumes para pequenos ruminantes instalados no país trabalhem com alta margem de ociosidade, chegando, em alguns casos, a operar com valores inferiores a 10% da capacidade instalada.


A produção de leite de cabra no Brasil contribui apenas com 1,3%, aproximadamente 141 mil toneladas da produção mundial (FAO 2008). Essa produção tem origem basicamente em duas regiões: Nordeste com mais de 75%, principalmente dos estados do Rio Grande do Norte e Paraíba, este último sendo o maior produtor nacional com uma produção que varia 13-18 mil litros/dia e a Região Sudeste  17%, com produções concentradas nos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro.


A França, por exemplo, produz aproximadamente de 497 mil toneladas anualmente, sendo maior produtor mundial de queijo de leite de cabra.  Novos investimentos na produção de caprinos principalmente no aproveitamento do leite de cabra têm mudado essa realidade no País. Entre as décadas de 80 e 90 houve aumento de 51,6% na produção nacional, indicando o crescente mercado e interesse na atividade.

O Cariri paraibano, a região que mais contribui para a Paraíba figurar como maior produtor de leite de cabra no País começa a diversificar os negócios. O contrato fechado pela Cooperativa Agro-Industrial (Coagril) com supermercados de João Pessoa e Campina Grande deverá contribuir para expansão dos negócios dos pequenos produtores. Eles vão comercializar derivados do leite caprino como queijo e, até o final deste ano.

Neste contexto, o melhoramento genético dos caprinos de corte e leite assume uma posição estratégica para o desenvolvimento desse setor.  A maior contribuição do melhoramento genético para uma Caprinocultura sustentável é na  adequação do genótipo ao sistema de produção, isto é  viabilizar o melhor genótipo para explorar de forma racional os recursos disponíveis. Não adianta investir na atividade se não existir animais com potencial genético para explorá-los de forma eficiente.

Programas existentes
Nos últimos anos algumas iniciativas de implantação de programas de melhoramento genético de caprinos foram feitas por iniciativas de pesquisadores vinculando-os a algum projeto de pesquisa.  Porém, apesar dos esforços desses pesquisadores a participação dos criadores e das associações nesses programas foi bastante limitada e inerte.


O melhoramento dos rebanhos de caprinos no Brasil ainda se utiliza  basicamente das raças exóticas, especializadas na produção de leite e carne, sendo a melhoria dos  rebanhos feita  por meio da importação de animais e  embriões, principalmente da  Europa, Estados Unidos e África do Sul, onde existem programas de melhoramento com avaliação genética.


Entretanto, é conhecido que os objetivos de seleção para as diferentes raças desses países são diferentes dos  que por acaso se estabeleçam aqui no Brasil, trazendo consequências, por exemplo; para ocorrência dos efeitos da interação genótipo-ambiente, de  maneira  que o reprodutor  com melhor avaliação genética  nesses países pode não ser o melhor aqui, ocasionando uma  inversão na ordem de classificação desses animais. Destarte, é importante que os criadores se conscientizem da importância dos programas de melhoramento genético dessa espécie no país.


Ferramentas utilizadas no melhoramento genético
Os dois instrumentos disponíveis para  provocar  o melhoramento genético  em quaisquer espécies são a seleção e o cruzamento. A seleção pode ser definida como sendo a decisão de permitir que os melhores indivíduos de uma geração sejam pais da  próxima geração. A seleção, de modo geral, tem  como objetivo  a melhoria e/ou fixação de alguma característica de importância.  Essa melhoria  alcançada nas  características quantitativas vai depender da herdabilidade da característica em questão e do diferencial de seleção.


Por outro lado, o cruzamento é uma forma de se obter ganhos genéticos de produção e de produtividade pela heterose e complementaridade de aptidões entre duas ou mais raças ou linhagens. Entretanto, isso não elimina a necessidade, e nem diminui a importância da seleção como processo de melhoramento genético a ser realizado simultaneamente. A seleção, além de fundamental para a melhoria das raças puras, tem de ser componente essencial em um programa de cruzamentos.


O cruzamento sem seleção resulta em vantagens facilmente superáveis pela seleção em raça pura, ao passo que a ação conjunta das duas conduz a uma contribuição simultânea positiva na característica.


Programa de Melhoramento dos Caprinos leiteiros
No ano de 2005, a Embrapa Caprinos  e Ovinos  por meio de projetos de pesquisa retomou ações visando o melhoramento genético de caprinos  leiteiros  no Brasil. Coube a Embrapa em parceira com a Associação Brasileira de criadores de Caprinos  - ABCC, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e a Associação dos Criadores de Caprinos e Ovinos de Minas Gerais (ACCOMIG/Caprileite) implantar o Controle Leiteiro Oficial e criar o Arquivo Zootécnico nacional, tendo a Embrapa Caprinos como depositária, no âmbito do teste de progênie. De acordo com Facó e Lobo (2008), o arquivo está estruturado e sendo alimentado com dados mensais de controle leiteiro oficial de 11 rebanhos localizados nos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.


A execução  do  teste de progênie teve como ponto  de partida a identificação dos reprodutores a serem testados. Dada a inexistência de banco de dados e, conseqüentemente, de informações referentes ao desempenho produtivo e reprodutivo dos rebanhos caprinos leiteiros, estabeleceu-se que a indicação dos reprodutores seria feita pela Associação Brasileira dos Criadores de Caprinos (ABCC).


A intenção inicial era promover o teste de reprodutores das raças Saanen e Anglonubiana. A partir da sugestão da Associação de Criadores de Caprinos de São Paulo (Capripaulo) e da percepção de sua importância, foi incluída também a raça Alpina. Assim, ficou definido que o 1º grupo de reprodutores a serem testados compreenderia sete reprodutores da raça Saanen, quatro da Anglo-nubiana e quatro da Alpina.

Em dezembro de 2005, a ABCC fez a indicação dos reprodutores. A partir daí, estabeleceram-se os convites aos proprietários dos reprodutores indicados. Aqueles proprietários que aceitaram o convite levaram seus animais para a Embriatec, empresa contratada pela Embrapa Caprinos  e Ovinos e por cada proprietário, para a coleta e criopreservação do sêmen. Desta forma, foi coletado sêmen de 10 reprodutores, sendo cinco Saanen, três Anglo-nubiana e dois Alpina.

Foram contatados muitos rebanhos para participar do teste como colaboradores, entretanto, apenas 18 se inscreveram para participar. Destes, três desistiram,  restaram 15, sendo dois da raça Anglo-nubiana, um da raça Alpina e 12 da raça Saanen. Porém, para testar os 10 reprodutores, seriam necessários pelo menos 9, 6 e 15 rebanhos Anglo-nubiana, Alpina e Saanen, respectivamente. Todavia, como a maioria dos criadores não tinha a técnica de inseminação artificial implantada na rotina de seus criatórios e as inseminações estavam sendo realizadas em tempo fixo e com sincronização de estro, a fertilidade ficou abaixo do esperado. Isto, associado ao pequeno número de colaboradores, certamente levará a uma baixa acurácia das avaliações deste primeiro grupo de reprodutores em teste.


Além do teste de progênie, outro plano de ação fundamental do Programa de Melhoramento Genético de Caprinos Leiteiros consistia na estruturação do Arquivo Zootécnico Nacional de Caprinos Leiteiros. Depois de longa negociação com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e as associações de criadores, no final de 2006, foi firmado um convênio entre o MAPA e a Associação dos Criadores de Caprinos e Ovinos de Minas Gerais (ACCOMIG/ Caprileite) para implantar o Controle Leiteiro Oficial e criar o Arquivo Zootécnico de Caprinos Leiteiros, tendo a Embrapa Caprinos e Ovinos como depositária, no âmbito do teste de progênie de caprinos leiteiros.


O arquivo está estruturado e sendo alimentado com dados mensais de controle leiteiro oficial de 20 rebanhos localizados nos estados de Ceará, Espírito Santo,  Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Outros quatro rebanhos do estado da Bahia terão início do controle leiteiro oficial em junho de 2010. É importante mencionar que a implementação do controle leiteiro somente foi possível a partir de uma inédita parceria entre a ACCOMIG/Caprileite e a Associação dos Criadores de Gado Holandês de Minas Gerais (ACGHMG), que permitiu a utilização de todo o “know-how” e infra-estrutura da ACGHMG, para a execução dos controles leiteiros e informação para o  Arquivo Zootécnico. Assim, este arquivo, está sendo fundamental para a conclusão do teste do primeiro grupo de reprodutores e foi a base para a reformulação do Programa de Melhoramento Genético de Caprinos Leiteiros que aconteceu em 2009.


As informações que estão sendo  colhidas pelos controladores correspondem à identificação animal, ao cadastro de coberturas e parições, produção de leite, gordura, proteína, lactose e extrato sexo total e contagem de células somáticas.

Os dados de escrituração zootécnica e do controle leiteiro oficial estão sendo organizados, através do Sistema de Gerenciamento de Rebanhos do PMGCL, desenvolvido pela Embrapa Caprinos e Ovinos.


Segundo Santos et al. (2009), até novembro de 2009 haviam sido realizados 4.678 controles leiteiros, com uma periodicidade média de 45 dias, sendo que 495 lactações com informações de produção foram concluídas com médias de produção total de leite na lactação, produção de leite em 305 dias de lactação, duração de lactação e produção média diária na lactação de 650,73 kg, 588,77 kg, 259,10 dias e 2,43 kg, respectivamente.


Além disso, a ACGHMG está emitindo certificados oficiais de desempenho para cada lactação fechada, o que tem deixado os criadores bastante satisfeitos, pois representa uma forma de divulgação e agregação de valor aos seus animais/criatórios.

Dificuldades
Várias lições foram  extraídas  a partir das dificuldades inicialmente encontradas no estabelecimento do PMGCL. Dentre estas podem ser destacadas:

a)Uma adequada estrutura organizacional para a realização de um controle leiteiro confiável é condição indispensável para o sucesso do teste de progênie. Isto porque, além de permitir um adequado controle da produção de leite e de toda a escrituração zootécnica nos rebanhos colaboradores, o controle leiteiro oficial se constitui num instrumento de divulgação dos criatórios, ajudando a atrair rebanhos de selecionadores para colaborar com o teste de progênie.


b) Não existem condições operacionais para que a execução de todas as visitas de acompanhamento e inseminações necessárias sejam feitas pelo corpo técnico da EMBRAPA, dentre outros motivos, por não ser esta a missão destes técnicos.


c) Logo, a plena realização do teste de progênie somente seria possível com uma maior aproximação e colaboração entre os criadores e suas associações e pesquisadores. Neste sentido, é fundamental a apropriação do projeto por parte dos criadores e suas associações, através do planejamento participativo, permitindo a adequada divisão de tarefas.


d) Para que tal apropriação fosse possível, seria necessária a realização de “workshops” e treinamentos dos corpos técnicos das associações e dos criadores.


e) O papel da EMBRAPA deveria ser o de co-responsável, com foco nas suas missões de pesquisa, desenvolvimento e inovação. Assim, deveria caber à EMBRAPA, o delineamento e o ajuste participativo do programa, a transferência de tecnologia em inseminação artificial, o treinamento para a correta coleta de dados zootécnicos e a gestão do banco de dados do Arquivo Zootécnico Nacional de Caprinos Leiteiros, com a realização das análises estatísticas, avaliações genéticas, divulgação dos resultados e orientações.


f) O papel das associações de criadores deveria ser de co-responsável, cabendo a estas a operacionalização do programa, coordenando/executando o controle leiteiro, a coleta e a distribuição de sêmen e o acompanhamento da coleta dos dados zootécnicos e das inseminações.

Após estas reflexões, realizou-se uma reunião na sede da ACCOMIG/Caprileite, Belo Horizonte – MG, nos dias 06 e 07 de dezembro de 2007, um workshop na sede da Embrapa Gado de Leite, em Juiz de Fora  – MG, no dia 08 de janeiro de 2008 e uma reunião com membros da equipe técnica do Programa de Melhoramento Genético do Zebu Leiteiro. Estas reuniões tiveram o objetivo de realizar  ajustes metodológicos no tocante ao Arquivo Zootécnico / Controle Leiteiro e ao Teste de Progênie e, principalmente, traçar uma nova estratégia de ação para o Programa de Melhoramento Genético de Caprinos Leiteiros.

A partir daí o PMGCL foi reestruturado, fundamentado no fortalecimento da parceria entre Embrapa Caprinos e Ovinos, Embrapa Gado de Leite, Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Universidade de Brasília, ACCOMIG/Caprileite, ACGHMG e ABCC, entre outros. O foco foi o desenvolvimento de ações plenamente complementares e fundamentais à consolidação do Teste de Progênie. Neste sentido, novos recursos foram buscados junto ao MAPA, à EMBRAPA e aos criadores envolvidos para fazer frente aos custos inerentes a um programa desta natureza e um novo projeto com recursos do Macroprograma 2 da EMBRAPA foi aprovado.

Ações de reestruturação do programa
Dentre as ações de reestruturação do programa, destacam-se:

a)  Enriquecimento do Arquivo Zootécnico  - liderado pela coordenação do Controle Leiteiro Oficial, tendo o papel fundamental de identificar rebanhos colaboradores do teste de progênie e dar o acompanhamento necessário, coletando as informações de controle leiteiro e reprodutivo nos rebanhos e repassando-as à Embrapa Caprinos e Ovinos, instituição depositária do AZNCL, conforme convênio estabelecido entre ACCOMIG/Caprileite e o MAPA. Este enriquecimento já está em curso com a inclusão de informações relativas às características de constituintes do leite (proteína, gordura, lactose, extrato seco e contagem de células somáticas), além daquelas que já vinham sendo controladas. Além disso, um sistema de coleta de dados de características lineares de tipo será discutido com as Associações de Criadores e implementados junto aos rebanhos colaboradores do Teste de Progênie. Neste processo de implantação, será realizado o treinamento dos técnicos envolvidos nas avaliações. Este enriquecimento, além de dar o devido suporte ao Teste de Progênie, permitirá a realização de estudos, visando estimativas de parâmetros genéticos para produção e qualidade do leite e características de conformação/tipo em caprinos leiteiros, gerando informações para a orientação do processo de seleção nos rebanhos participantes do Programa de Melhoramento Genético de Caprinos Leiteiros.


b) A consolidação do Teste de Progênie de Caprinos Leiteiros continua sendo responsabilidade da Embrapa Caprinos e Ovinos, com a co-responsabilidade da ACCOMIG/Caprileite, ABCC, Embrapa Gado de Leite e outros parceiros. O objetivo é o de promover o melhoramento genético das principais raças de caprinos leiteiros exploradas no Brasil por meio da identificação e seleção de reprodutores jovens geneticamente superiores para as características de produção e de conformação. Entre as atividades mais importantes do teste de progênie, destacam-se a seleção dos reprodutores jovens a serem testados, a partir das informações do AZNCL, a coleta, a criopreservação e a distribuição do sêmen dos reprodutores em testes, o treinamento dos colaboradores em inseminação artificial de cabras, a coleta e o armazenamento das informações produtivas e reprodutivas através do AZNCL, as avaliações genéticas e a divulgação dos resultados.


c) Outras ações fundamentais estão sendo tomadas no sentido de consolidar a técnica de inseminação artificial em caprinos, por meio da geração de conhecimentos adequados à realidade das raças em teste e difundir este conhecimento na forma de treinamentos, de modo a garantir sustentabilidade do programa de melhoramento genético em caprinos leiteiros.


d) Dentro do novo projeto, foi elaborado um plano de ação intitulado “Estudo de genes candidatos de importância econômica para caprinocultura de leite e estimativa de erros genealógicos em rebanhos experimentais e comerciais”. Com este plano de ação objetiva-se:


1) Criar um Banco estratégico de amostras (tecidos/ DNA) e dados produtivos que servirá para futuros estudos de associação entre marcadores moleculares e características de interesse econômico;

2) Quantificar o erro de pedigree nos rebanhos que participarão do teste de Progênie por meio de um painel de marcadores moleculares do tipo microssatélites;

3) Estimar a diversidade genética existente dentro e entre rebanhos leiteiros a partir do uso de genes candidatos relacionados a características produtivas em caprinos de leite;

4) Realizar a prospecção de novos marcadores em genes específicos das raças/rebanhos brasileiros.

e) Por fim, foi elaborado outro plano de ação com os objetivos de:

1) Investigar os principais sistemas de produção de leite caprino no Brasil e determinar objetivos econômicos de seleção para os mesmos;

2) Obter pesos econômicos para as principais características biológicas que têm impacto na rentabilidade dos sistemas de produção de leite no Brasil;

3) Construir índices de seleção a partir de diferentes estruturas populacionais.

Hoje, o PMGCL encontra-se em sua segunda fase, com os reprodutores selecionados para o 2º grupo de teste de progênie e a coleta do sêmen em fase de conclusão, com distribuição do sêmen para os rebanhos colaboradores prevista para meados de 2010.

O convênio com o MAPA para a realização do controle leiteiro oficial vem sendo renovado a cada ano e o arquivo zootécnico continua sendo enriquecido. O banco de DNA está sendo constituído e atualmente contém amostras de material genético de 767 animais. Os estudos de caracterização dos sistemas de produção de leite caprinos mais comuns no Brasil estão em curso e dentro em breve devem estar disponíveis as primeiras estimativas de pesos econômicos para as principais características biológicas que afetam a rentabilidade da produção de leite caprino no Brasil.


Programa de Melhoramento dos Caprinos de corte
A atual pressão exercida pelos frigoríficos bem como pelo mercado de carne caprina no Brasil tem sido bastante significativa. No entanto, o setor produtivo não tem respondido de forma satisfatório com oferta de animais que produza carcaça de qualidade nem atendem com regularidade esse mercado. Isto tem causado um artifício na comercialização da carne caprina onde essa é substituída pela  carne ovina. O setor tem cobrado dos criadores  atitude mais proativa  na utilização de métodos de criação e seleção mais eficientes do que os ainda praticados.


No que  diz respeito aos genótipos utilizados nesse processo, é de fundamental importância que se desenvolvam e se intensifiquem ações de seleção e/ou cruzamentos voltados para  a melhoria dos animais ofertados e conseqüentemente das qualidades das carcaças e isso tem estreita ralação com o peso e ganho de peso, bem como para a precocidade  de  acabamento, aliadas a melhoria da nutrição/alimentação, reprodução, adaptabilidade e a sanidade animal.

  
Para contribuir com esse processo os técnicos  envolvidos na pesquisa tem buscado duas ferramentas do melhoramento a seleção de reprodutores caprinos  jovens avaliando seu desempenho individual através de Provas  Zootécnicas e estratégias de cruzamentos para produção de caprinos de corte.


No primeiro caso, Sousa et el. (2006) desenvolveu um método de avaliação individual para caprinos de corte. Este método foi  desenvolvido pela equipe da área de Melhoramento Genético de pequenos ruminantes da Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S.A e parceiros com apoio financeiro do BNB e FINEP e com a participação das Associações Brasileira de Criadores de Caprinos da Raça Boer – ABCBoer.


O objetivo da metodologia desenvolvida é avaliar o desempenho individual de caprinos de corte, por meio de Provas Zootécnicas, em confinamento, como forma de fornecer subsídios aos criadores para comparar o mérito genético de seus animais com os de outros criadores, municiando-os também de instrumentos auxiliares de seleção.

Para classificação final dos animais na prova, em categorias, é utilizado um índice com diferentes ponderações que contempla o ganho de peso médio diário, a área de olho de lombo, o perímetro escrotal, a espessura de gordura de cobertura e escore visual.


Outra ferramenta de auxilio a seleção de caprinos de corte disponível para os criadores e produtores é o GENECOC, desenvolvido por técnicos da Embrapa Caprinos e Ovinos, que tem como objetivo principal prestar  serviço de assessoria genética  aos produtores e criadores de caprinos e ovinos de corte. Segundo Lobo et al. (2010), a base do programa é estimular e assessorar os participantes na  escrituração zootécnica  de seus rebanhos, gerando informações seguras e confiáveis que possam ser utilizadas na seleção de seus animais. Para isto o programa utiliza um sistema de gerenciamento de dados através de um software em rede acessado via internet.   Para os rebanhos com estimativas de DEP, este software possui ferramentas de seleção de animais por mérito genético total, com a construção de um índice genético de seleção, e para a seleção dos acasalamentos que maximizam o ganho genético do rebanho, com controle da endogamia.  

                                                                     
Infelizmente, ambas as ferramenta de auxilio a seleção de caprinos de corte ainda não estão inseridas, de forma plena, a um programa nacional de melhoramento genético, com a efetiva participação da Associação Brasileira de Criadores de Caprinos e suas afiliadas, bem como do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA.


Cruzamentos em caprinos de corte e recursos genéticos disponíveis
A  diversidade genética entre raças de caprinos existentes no Brasil pode fornecer combinações genéticas apropriadas para uma variedade de situações de produção, manejo e de mercado. Acredita-se que para a maioria dos sistemas de criação praticados no País, as raças Boer, Savanna,  Anglo– Nubiana, e as cabras Sem Padrão Racial Definido (SPRD)  tem sido as mais utilizadas em cruzamentos para produção de carne.


A equipe de pesquisadores da Emepa tem realizados vários trabalhos de cruzamentos visando identificar as melhores alternativas de produção de carne caprina fazendo uso de diferentes estratégias de cruzamentos. 


Para realização destes trabalhos a Emepa contou com a parceria de varias instituições de fomento a pesquisa, como BNB, FINEP e CNPQ,  bem como outras instituições publicas e privadas, como UFPB, UFCG, SEBRAE e associações de criadores.


Durante a execução desses trabalhos  foram produzidos animais contemporâneos de cinco grupamentos genéticos formados a partir de cruzamentos com as raças Boer, Anglo Nubiana (AN), Moxotó (MO), além do grupo Sem Padrão Racial Definido  (SPRD) como, conforme apresentados a seguir.

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Para Sousa   et al. (2006) cruzamentos entre machos Boer versus fêmeas mestiças de 1/2 Anglo Nubiana + 1/2 SPRD proporcionaram melhores ganhos de peso, qualidade de carcaça  e conversão alimentar nos cabritos. A combinação de sistemas de cruzamento e terminação proporcionou redução na idade de abate e melhorar o rendimento e a qualidade da carcaça. No entanto,  os mesmos autores revelaram que há necessidade de continuidade dos estudos, incluindo a economicidade de sistemas de produção e outras estratégias de cruzamentos, visando um melhor posicionamento sobre a utilização desses genótipos.


Demanda de serviço técnico no setor
Percebe-se uma grande demanda, por parte dos caprinocultores, por profissionais da área de biotecnologia da reprodução (inseminação artificial, transferência de embriões). Na verdade, a grande maioria dos produtores brasileiros ainda faz uma grande confusão entre as técnicas de multiplicação animal e o melhoramento genético. Acreditam que pelo simples fato de estarem utilizando uma daquelas técnicas estão produzindo melhoramento genético. Como agravante, esta confusão é, em parte, fomentada pelos profissionais da área de multiplicação animal.


São poucos os criadores que buscam profissionais com sólido conhecimento em melhoramento genético animal, capazes de tratar da descrição dos sistemas de produção, definição de objetivos e critérios de seleção e delineamento de programas de seleção/cruzamentos de modo a maximizar o ganho genético e produzir animais com as características demandadas pelo mercado consumidor.


Há quase sempre uma visão de curto prazo, na qual os criadores investem em infraestrutura, biotecnologias reprodutivas e “marketing”, visando um retorno quase imediato com a venda de animais para reprodução.


Vale ainda destacar que, há uma clara desconexão entre os critérios de seleção praticados nos rebanhos de elite e as necessidades dos rebanhos comerciais. Para agravar este quadro, boa parte dos criadores de animais de elite é formadora de opinião e induz a execução de programas de distribuição de reprodutores e matrizes para pequenos criadores através da proximidade que têm de gestores públicos nas esferas federal, estadual e municipal. Todavia, na maioria das situações, os animais distribuídos não são os mais adequados para os sistemas de produção alvo.


Recursos humanos envolvidos e demanda de serviços técnicos
Sabe-se que o numero de melhoristas envolvidos hoje na atividade da  Caprinocultura é muito limitado, principalmente no setor privado. No  Nordeste estes profissionais estão vinculados nas instituições de ensino e de pesquisa, mas com pouco envolvimento  com as associações de criadores.  As ações de melhoramento demandadas nos estados são significativas, o que exige deles o planejamento e a execução das ações de melhoramento nos seus respectivos estados.


No entanto, para atender outros serviços, tais como o de extensão e de programas de fomento governamentais, seriam necessários um maior numero de profissionais dessa área.


Nível tecnológico empregado nos programasTanto o GENECOC quanto o Programa de Melhoramento Genético de Caprinos Leiteiros (PMGCL) utilizam fichas de escrituração zootécnica padronizadas para  as coletas das informações de identificação animal, produtivas e reprodutivas. No PMGCL o controle leiteiro é oficial e realizado por instituição credenciada junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Os dados coletados são organizados em um banco de dados PostgreSQL, através de software desenvolvido nas linguagens PHP/HTML/Javascript e com acesso restrito acesso restrito via internet (Lôbo et al., 2010), sendo que cada criador tem seu próprio login e senha, podendo gerar diversos tipos de relatórios zootécnico-gerenciais. A partir dos bancos de dados são realizadas avaliações genéticas utilizando as técnicas estatísticas dos modelos mistos sob modelo animal, com a metodologia BLUP (Melhor Predição Linear Não Viesada).


Nas avaliações individuais de caprinos de  corte, através das Provas Zootécnicas, (Sousa et et., 2006 ), tem utilizado técnicas da ultassonografia, em tempo real, por meio de software de avaliação de carcaça BIA PRO PLUS, da empresa Designer Genes Technologies.


Ao final de cada prova utilizam-se avaliações visuais por escore para as características: Tipo Racial, Musculatura, Conformação, Precocidade de Acabamento e Aprumos.  Para o armazenamento dos dados e cálculo do índice final da prova está sendo desenvolvido um Software (PZTEC), utilizando-se linguagem computacional modernas.


Perspectivas de evolução do Setor
Na produção leiteira
Apesar de 75% da produção  leite no Brasil  ter origem na região Nordeste, esta produção envolve um  número maior de cabras em lactação, sendo menor a produtividade.

Vale ressaltar que, recentemente, tem se verificado a expansão do mercado formal de leite caprino, tanto na região Nordeste, onde existem programas governamentais incentivando a atividade, quanto nas regiões Sul e Sudeste, onde se verifica um maior mercado demandante por leite e derivados do leite caprinos. Logo, há uma demanda por aumento da produção e da produtividade e, portanto, demanda por animais de mais elevado potencial genético, tanto para as condições mais comuns do semiárido nordestino quanto para os sistemas de produção mais intensivos da região sudeste. No entanto, a região que produz maior quantidade de leite tem apenas um rebanho participando do Teste de Progênie oficial.


Na Paraíba, o governo do estado estar implantando  seis núcleos de melhoramento e multiplicação de caprinos de leite como forma de suprir as demandas por reprodutores na região produtora. Esses núcleos serão  supridos por sêmen de reprodutores puros da Emepa-PB e de outros criadores e terão acompanhamento e coletas de dados, principalmente o controle leiteiro. Assim, seria uma ótima oportunidade para iniciar o teste de na região com maior produção de leite do Brasil. O programa contempla ainda orientação sobre as estratégias de cruzamentos para produção cabras de leite, evitando assim, o uso de cruzamentos absorvente, que não parece interessante para maioria dos rebanhos envolvidos.


Na Produção de caprinos de corte  As perspectivas para a Caprinocultura de corte são muito boas, devido  à crescente demanda por carne caprina, tanto dos consumidores como dos programas governamentais da região Nordeste. Isto leva a uma grande demanda por reprodutores com potencial para produção de carne adaptados para  diferentes condições de produção.  No momento essa genética estar sendo suprida por reprodutores importados e suas progênies, principalmente da raça Boer, mas a raça Anglo Nubiana tem tido um importante papel na produção de animais mestiços de corte.  Neste contexto, é essencial a implementação de programas de melhoramento genético, através de  avaliação genética, nos moldes do GENECOC ou por meio de avaliações individuais de futuros reprodutores jovens identificados, através das Provas Zootécnicas.


Os cruzamentos orientados têm ainda importante papel na produção de carne, no entanto, a falta de reprodutores melhorados é ainda  um grande entrave para os ganhos que seriam obtidos com reprodutores avaliados geneticamente. 


Recomendações de ações aos órgãos de desenvolvimento e fomento
Observa-se atualmente a atuação de um grande número de instituições no fomento às cadeias produtivas da Caprinocultura. Porém, na grande maioria das vezes, esta atuação se dá de forma  fragmentada, com abordagem pontual e pouca interação interinstitucional. Como conseqüência, a aplicação dos recursos públicos acaba, muitas vezes, tendo impacto limitado e as ações são descontinuadas.

Felizmente, começa-se a verificar um esforço no sentido de integrar as ações das diversas instituições.


Do ponto de vista do melhoramento genético,  as ações desenvolvidas por aquelas instituições envolvem, de algum modo, uma estratégia de alteração do perfil genético da população alvo. Na quase totalidade dos casos, a abordagem envolve a distribuição de reprodutores e/ou matrizes de raças especializadas para produção de carne e/ou leite com vistas aos cruzamentos  com a população caprina localmente adaptada.

Porém, por falta de uma orientação, na grande maioria das situações, após um primeiro momento satisfatório, em função da heterose provocada pelo cruzamento na população F1, esta abordagem poderá ser inadequada se não houver mudanças nos padrões de produção ou na estratégia de cruzamento, pois do contrário, o cruzamento absorvente produzirá genótipos não adaptados as condições mais hostis do semiárido nordestino. Diante deste quadro, cabe-nos recomendar, aos órgãos de desenvolvimento e fomento atuantes na caprinocultura, que as ações que envolvam estratégias de cruzamentos sejam mais proativas para evitar uma  alteração da constituição genéticas dos rebanhos inadequada para os atuais sistemas de produção da região semiárida.


É importante que essas ações sejam planejadas, acompanhadas e gerenciadas, por profissionais com  adequado conhecimento em melhoramento genético animal.


Adicionalmente,  nas ações que envolvam distribuição de animais de raças exóticas especializadas, deveriam  ser  incentivadas estratégias de conservação dos recursos genéticos localmente adaptados, com foco na  valorizando comercial dos seus produtos.


Como abordado por Sousa et. al. (2007), para promover  e/ou consolidar eficientes programas de melhoramento genético  para  caprinos de corte  e leite  no Brasil, o primeiro passo seria estabelecer objetivos e critérios de seleção fundamentados no produto final a ser oferecido no mercado.


Os programas de melhoramento genético de caprinos deverão ter o foco na produção de carne e leite e  na comercialização de reprodutores, pois  existe um  grande mercado  para reprodutores para uso comercial, principalmente para serem utilizados  em cruzamentos, No entanto,  esperamos que  todas essas  ações não  sejam  iniciativas isoladas de  um  grupos de pesquisadores e de alguns criadores. O programa de melhoramento dos caprinos de leite, através do Teste de Progênie, começa ter uma configuração que permitirá a sua consolidação no futuro, mas ainda se apresenta muito frágil na dependência de recursos federais. Esta realidade precisa ser modificada para sua sustentabilidade no longo prazo, mas  reconhece-se a necessidade do papel indutor do estado neste primeiro momento. As iniciativas para caprinos de corte estão longe de ser implementadas no formato de um programa de melhoramento, pois, os criadores ainda não mostraram interesses reais por essa ação.


No geral persistem alguns questionamentos; por exemplo:  (i) quais os objetivos e critérios de seleção para o melhoramento desses  rebanhos? (ii) qual  é  a relação desses programas com os rebanhos comerciais? (iii) que abrangência e continuidade essas iniciativas tiveram ou se propõe a ter, sem depender dos recursos da pesquisa ou de convenio com o MAPA?  (iv) que tipo de animais os criadores estão colocando nas avaliações? (v) existe seleção previa? (vi) que representatividade tem esses animais dentro do rebanho?  (vii) os criadores estão realmente fazendo uso dessas avaliações? (viii) qual o grau de confiabilidade das informações coletadas, principalmente de parentesco? (ix) os criadores estão realmente interessados nessas  avaliações? (x) os criadores saberão esperar os resultados dessas avaliações a médio e longo prazo? (xi) qual a participação efetiva das associações de criadores e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) nesses programas? 

 
Considerações Finais
Os criadores brasileiros, em geral, anseiam por resultados imediatos e sabe-se que os investimentos em melhoramento genético animal são onerosos e de longo prazo, mas com grande retorno econômico. Nessa  área  da Caprinocultura, deparamos ainda com outros dificuldades, como o comprometimento dos criadores com os programas, qualidade de mãode-obra, capacidade de  gestão  dos estabelecimentos, pouca  reivindicação do mercado consumidor por produtos de qualidade.


Assim, os poucos avanços alcançados até o momento devem ser creditada  à renúncia de alguns pesquisadores, técnicos e de poucos criadores.