sábado, 26 de fevereiro de 2011

Uma História Breve do Anglo-Nubiano leiteiro na America do Norte

 

A partir de meados do século 19 até 1896 os franceses e britânicos trouxeram cabras exóticas de seus impérios coloniais para os zoológicos de seus países. Os detalhes são totalmente especulativos, mas alguns desses caprinos ou seus descendentes foram para mãos privadas e passaram a ser chamados (na Grã-Bretanha)  "Núbiana" (Nubian), relativo ao império antigo da África equatorial. Existem importações conhecidas de Nubianas da França para a Inglaterra em 1878 e1891, e muitos outros cabrinos exóticos foram comprados de navios de comércio (que as utilizaram para leite e carne à bordo) e encontraram seu caminho para a piscina genética da "cabra comum Inglesa ".


1896 Caprinos Jumna Pari foram importadas para a Inglaterra especificamente para fins de reprodução. Caprinos tipo Nubianas são importadas para a América da Inglaterra, mas os registros não foram mantidos.


1904-1910 Um grupo de criadores começa a desenvolver o "Anglo-Nubiano" usando deliberadamente bodes importados de Zaraibi (Africa), Chitral (Índia) e outros caprinos tipo o nubiano equatoriais.

1910-1911 A raça "Núbiana", é reconhecida, um livro genealógico se iniciou com 459 animais, e o padrão da raça foi estabelecido. Nos próximos dois anos foi permitido que 61 animais fossem considerados como base da raça.


1909-1913 Sr. J.R. Gregg importou um total de cinco Anglo-Núbianas para a Califórnia, o que instituiu um programa de melhoramento registrado que produziu 40 Nubianas registrados em 1917.


1917-1921  A primeira importação de Anglo Nubianas da Inglaterra para o Canadá pelo Major D.C. Mowat estabeleceu um programa de melhoramento genético com registro lá. Filhos são importados para os EUA, incluindo a Spring Beauty Anderson, a primeira cabra Nubiana nos EUA a se qualificar para um AR (status de estrela leiteira) em 1924. As compras americanas das canadenses importadas e das Anglo-Nubianas continuaram a ter um grande impacto sobre as Nubianas nos EUA até o final da década de 1940.


1924-1930 Progressos rápidos na raça Nubiana no Canadá continuaram com o desenvolvimento do rebanho Shirley do Sr e da Sra H. G. Monson na British Columbia, o primeiro rebanho cujas cabras ordenhadas consistentemente produziam mais de 2.000 quilos de leite em uma lactação. Cabras do rebanho Shirley foram importados para os EUA para o rebanho Imperial (Nebraska) e Wheelbarrow Hill (Pensilvânia). Imperial produziu o reprodutor Creamy's Lad, um dos primeiros reprodutores Nubiano a ganhar uma AR e a pedra fundamental do rebanho Oakwoods. O rebanho The Wheelbarrow Hill de Emma Hill Trego Fell cruzou o rebanho leiteiro "Shirley"com animais vistosos, como a cabra Malpas Merridew que ela importou da Grã-Bretanha.


Of particular impact are the Chikaming herd of Mr./Mrs. Carl Sandburg (yes, the poet) which was founded in Michigan and moved to North Carolina, and the Cape May herd of Mrs.Elizabeth Buch in New Jersey. Both made extensive use of Oakwoods, Shirley, and Wheelbarrow Hill breeding.

1932-1943 O rebanho Oakwoods é iniciado pela Sra. V.E. Thompson no Missouri e se mudou para a Califórnia onde se cruzou com os descendentes da importação original dos EUA (1913), com resultados espetaculares. Animais de Wheelbarrow Hill também são comprados e levados para a Califórnia. Ao mesmo tempo, o resto do país alcançava um rápido progresso com mais algumas importações britânicas e canadenses que chegaram até a véspera da segunda guerra mundial. De grande impacto, foi o rebanho Chikaming do Sr. & Sra. Carl Sandburg (sim, o poeta) que foi fundado em Michigan e se mudou para a Carolina do Norte, e o rebanho Cape May da Sra.Elizabeth Buch, em Nova Jersey. Ambos utilizaram de forma extensiva Oakwoods, Shirley, e Wheelbarrow Hill.

Fonte: A Very Brief History of the Nubian Dairy Goat in America in timeline form by Norm Jacobs Caprifield Farm, Yamhill, Oregon
with thanks to Alice Hall and Mrs. Robert Reinhardt

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Algaroba para comer e beber

Por Thiago Romero (Agência FAPESP)

Uma leguminosa com alto valor nutritivo, que não exige muita água e nem solos férteis para frutificar, tem se mostrado uma importante fonte alternativa para a alimentação humana.


Originária dos Andes peruanos, a algaroba (Prosopis juliflora) produz uma vagem rica em proteínas, fibras, sais minerais, carboidratos e açúcares. No Brasil, desde a década de 1940, as vagens do vegetal têm servido para produção de ração de animais. No município de Serra Branca, no semi-árido paraibano, por exemplo, a ração beneficiada com algaroba é responsável por 90% da alimentação de caprinos e ovinos e por cerca de 20% do rebanho bovino.


Um estudo feito na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) tem avaliado o potencial econômico e social da algaroba no semi-árido. A pesquisa mostra a versatilidade da leguminosa também para consumo humano, com grande potencial para produção de artigos como farinha, pães, biscoitos, bolo, mel, vinagre e aguardente.
A algaroba possibilita um leque muito amplo de oportunidades. Por isso, ela é conhecida como planta mágica do Nordeste. Como bebida láctea, por exemplo, ela pode ser servida junto à merenda escolar em regiões carentes´, explica o engenheiro de alimentos Clóvis Gouveia da Silva, principal autor da pesquisa, à Agência FAPESP.


Por não exigir muita água, a algaroba apresenta bom rendimento mesmo nos períodos de seca. A leguminosa supera o trigo e o milho em proteínas e aminoácidos. Segundo a Embrapa Semi-Árido, a espécie também possui uma estrutura biológica que ajuda na fixação do nitrogênio ao solo e na recuperação de áreas degradadas. Por outro lado, se não for bem manejada, a algaroba é capaz de invadir hábitats naturais e inibir a regeneração das espécies de caatinga, reduzindo a biodiversidade vegetal do bioma.
Silva depositou três pedidos de patentes com derivados da algaroba no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). Um deles, a aguardente de algaroba bidestilada envelhecida em barris de carvalho, foi indicado para concorrer ao Prêmio Finep de Inovação Tecnológica 2006.


Além do incentivo à indústria de alimentos, Silva estuda ainda a produção de álcool combustível. ´Devido aos altos teores de açúcares que podem sofrer fermentação, presentes na vagem da algaroba, estamos analisando a construção de uma minidestilaria de álcool que poderá servir como alternativa para a entressafra de cana-de-açúcar´, conta.


Fonte: Emater-RN

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Melhoramento Genético de Caprinos no Brasil

Por Wandrick Hauss de Sousa, Olivardo Facó e Milton Daniel Benitez Ojeda
Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S.A. e Embrapa Caprinos e Ovinos

Resumo
Esse trabalho apresenta os principais problemas e potencialidades da Caprinocultura de corte e leite  no Brasil, no que concerne ao melhoramento genético e também descreve a situação atual, em termos estratégicos, programas de melhoramento existentes, demanda do setor, recursos genéticos disponíveis, nível tecnológico empregado nos programas, perspectivas do setor. Recomendações para ações aos órgãos de desenvolvimento e fomento envolvidos na Caprinocultura também são discutidas. As discussões  serão apresentadas com o objetivo de permitir um  melhor entendimento da atual situação da atividade, bem como  o papel fundamental que representa o melhoramento genético dessa espécie para a consolidação desse segmento no País.

Palavras-chave: caprinos de corte,  caprinos leiteiros,  carne, pele, mercado, qualidade da carne, cadeia produtiva


Introdução
No Brasil, cresce a demanda por carne e leite caprino. Acompanhando essa demanda, crescem também as  cobranças por melhores produtos o que demanda dos criadores, uma mudança  na maneira de produzir.  Ante esse  cenário, criadores e produtores  de  caprinos, principalmente do Nordeste precisam melhorar o potencial genético de seus rebanhos para atender, a médio e longo prazo, as demandas dos mercados com produtos de qualidade. Isto inclui também a necessidade da utilização de reprodutores e matrizes com potencial genético capaz de produzir progênies que atendam as exigências desse mercado. Portanto, o melhoramento genético tem papel importante neste processo, por ser um dos principais instrumentos para identificação de animais superiores.


Uma  das formas de  melhorar  a produtividade dos caprinos no Brasil é através  do melhoramento genético abalizado na seleção de indivíduos com maior ganho de peso, conversão alimentar, rendimento de carcaça, produção de leite e melhor precocidade sexual.


A eficiente multiplicação desses animais superiores proporciona maior  lucratividade na atividade. No entanto, a multiplicação e disseminação desse material genético somente são possíveis com um adequado programa de melhoramento genético.

Situação atual
Apesar do baixo nível tecnológico ainda presente em todo processo produtivo, a Caprinocultura no Brasil, principalmente no Nordeste, tem apresentado formas que a coloca numa posição estratégica no cenário do agronegócio e nos programas sociais de combate a pobreza no campo. Isto está respaldado no incremento do consumo interno de carne, leite e da demanda dos curtumes por peles de qualidade, bem como na percepção de oportunidades de negócio que a atividade tem oferecido. De acordo com o último censo agropecuário de 2006 (BRASIL, 2009), o rebanho caprino brasileiro é da ordem de 7.107.608 cabeças, estando concentrado na região Nordeste (91%),  , onde são criados, na sua maioria, sob sistemas de produção poucos tecnificados, utilizando animais com baixo potencial genético para atender as exigências do mercado consumidor em termos de regularidade e qualidade.


Para Sousa (2003) apesar de ser ainda muito baixo  o consumo de carne caprina no Brasil, nos últimos anos, observam-se sinais de crescimento, principalmente nas grandes cidades, mas  ainda  faltam regularidade e qualidade de animais para produção de carcaças exigidas pelo mercado. Enquanto o consumo per capita é estimado em menos de 1,0 kg, o consumo em países Árabes e da Europa varia de 4,0 a 8,0 kg. Somente nos últimos anos, a carne e caprina está sendo encontrada em supermercados, açougues e restaurantes finos das grandes cidades, quebrando o paradigma do consumo apenas rural e em pequenas cidades do interior (Couto 2001). Com isso verificou-se também a implantação de agroindústrias, notadamente frigoríficos e abatedouros em todo Brasil. Sousa (2003)  comenta que a produção de peles de caprinos são atividades complementares. De fato, dependendo do mercado, a pele de boa qualidade pode agregar até 20% do valor do produto final (animal destinado ao abate) pago ao produtor (Couto Filho, 1999). A escassez de carne e pele faz com que abatedouros, frigoríficos e curtumes para pequenos ruminantes instalados no país trabalhem com alta margem de ociosidade, chegando, em alguns casos, a operar com valores inferiores a 10% da capacidade instalada.


A produção de leite de cabra no Brasil contribui apenas com 1,3%, aproximadamente 141 mil toneladas da produção mundial (FAO 2008). Essa produção tem origem basicamente em duas regiões: Nordeste com mais de 75%, principalmente dos estados do Rio Grande do Norte e Paraíba, este último sendo o maior produtor nacional com uma produção que varia 13-18 mil litros/dia e a Região Sudeste  17%, com produções concentradas nos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro.


A França, por exemplo, produz aproximadamente de 497 mil toneladas anualmente, sendo maior produtor mundial de queijo de leite de cabra.  Novos investimentos na produção de caprinos principalmente no aproveitamento do leite de cabra têm mudado essa realidade no País. Entre as décadas de 80 e 90 houve aumento de 51,6% na produção nacional, indicando o crescente mercado e interesse na atividade.

O Cariri paraibano, a região que mais contribui para a Paraíba figurar como maior produtor de leite de cabra no País começa a diversificar os negócios. O contrato fechado pela Cooperativa Agro-Industrial (Coagril) com supermercados de João Pessoa e Campina Grande deverá contribuir para expansão dos negócios dos pequenos produtores. Eles vão comercializar derivados do leite caprino como queijo e, até o final deste ano.

Neste contexto, o melhoramento genético dos caprinos de corte e leite assume uma posição estratégica para o desenvolvimento desse setor.  A maior contribuição do melhoramento genético para uma Caprinocultura sustentável é na  adequação do genótipo ao sistema de produção, isto é  viabilizar o melhor genótipo para explorar de forma racional os recursos disponíveis. Não adianta investir na atividade se não existir animais com potencial genético para explorá-los de forma eficiente.

Programas existentes
Nos últimos anos algumas iniciativas de implantação de programas de melhoramento genético de caprinos foram feitas por iniciativas de pesquisadores vinculando-os a algum projeto de pesquisa.  Porém, apesar dos esforços desses pesquisadores a participação dos criadores e das associações nesses programas foi bastante limitada e inerte.


O melhoramento dos rebanhos de caprinos no Brasil ainda se utiliza  basicamente das raças exóticas, especializadas na produção de leite e carne, sendo a melhoria dos  rebanhos feita  por meio da importação de animais e  embriões, principalmente da  Europa, Estados Unidos e África do Sul, onde existem programas de melhoramento com avaliação genética.


Entretanto, é conhecido que os objetivos de seleção para as diferentes raças desses países são diferentes dos  que por acaso se estabeleçam aqui no Brasil, trazendo consequências, por exemplo; para ocorrência dos efeitos da interação genótipo-ambiente, de  maneira  que o reprodutor  com melhor avaliação genética  nesses países pode não ser o melhor aqui, ocasionando uma  inversão na ordem de classificação desses animais. Destarte, é importante que os criadores se conscientizem da importância dos programas de melhoramento genético dessa espécie no país.


Ferramentas utilizadas no melhoramento genético
Os dois instrumentos disponíveis para  provocar  o melhoramento genético  em quaisquer espécies são a seleção e o cruzamento. A seleção pode ser definida como sendo a decisão de permitir que os melhores indivíduos de uma geração sejam pais da  próxima geração. A seleção, de modo geral, tem  como objetivo  a melhoria e/ou fixação de alguma característica de importância.  Essa melhoria  alcançada nas  características quantitativas vai depender da herdabilidade da característica em questão e do diferencial de seleção.


Por outro lado, o cruzamento é uma forma de se obter ganhos genéticos de produção e de produtividade pela heterose e complementaridade de aptidões entre duas ou mais raças ou linhagens. Entretanto, isso não elimina a necessidade, e nem diminui a importância da seleção como processo de melhoramento genético a ser realizado simultaneamente. A seleção, além de fundamental para a melhoria das raças puras, tem de ser componente essencial em um programa de cruzamentos.


O cruzamento sem seleção resulta em vantagens facilmente superáveis pela seleção em raça pura, ao passo que a ação conjunta das duas conduz a uma contribuição simultânea positiva na característica.


Programa de Melhoramento dos Caprinos leiteiros
No ano de 2005, a Embrapa Caprinos  e Ovinos  por meio de projetos de pesquisa retomou ações visando o melhoramento genético de caprinos  leiteiros  no Brasil. Coube a Embrapa em parceira com a Associação Brasileira de criadores de Caprinos  - ABCC, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e a Associação dos Criadores de Caprinos e Ovinos de Minas Gerais (ACCOMIG/Caprileite) implantar o Controle Leiteiro Oficial e criar o Arquivo Zootécnico nacional, tendo a Embrapa Caprinos como depositária, no âmbito do teste de progênie. De acordo com Facó e Lobo (2008), o arquivo está estruturado e sendo alimentado com dados mensais de controle leiteiro oficial de 11 rebanhos localizados nos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.


A execução  do  teste de progênie teve como ponto  de partida a identificação dos reprodutores a serem testados. Dada a inexistência de banco de dados e, conseqüentemente, de informações referentes ao desempenho produtivo e reprodutivo dos rebanhos caprinos leiteiros, estabeleceu-se que a indicação dos reprodutores seria feita pela Associação Brasileira dos Criadores de Caprinos (ABCC).


A intenção inicial era promover o teste de reprodutores das raças Saanen e Anglonubiana. A partir da sugestão da Associação de Criadores de Caprinos de São Paulo (Capripaulo) e da percepção de sua importância, foi incluída também a raça Alpina. Assim, ficou definido que o 1º grupo de reprodutores a serem testados compreenderia sete reprodutores da raça Saanen, quatro da Anglo-nubiana e quatro da Alpina.

Em dezembro de 2005, a ABCC fez a indicação dos reprodutores. A partir daí, estabeleceram-se os convites aos proprietários dos reprodutores indicados. Aqueles proprietários que aceitaram o convite levaram seus animais para a Embriatec, empresa contratada pela Embrapa Caprinos  e Ovinos e por cada proprietário, para a coleta e criopreservação do sêmen. Desta forma, foi coletado sêmen de 10 reprodutores, sendo cinco Saanen, três Anglo-nubiana e dois Alpina.

Foram contatados muitos rebanhos para participar do teste como colaboradores, entretanto, apenas 18 se inscreveram para participar. Destes, três desistiram,  restaram 15, sendo dois da raça Anglo-nubiana, um da raça Alpina e 12 da raça Saanen. Porém, para testar os 10 reprodutores, seriam necessários pelo menos 9, 6 e 15 rebanhos Anglo-nubiana, Alpina e Saanen, respectivamente. Todavia, como a maioria dos criadores não tinha a técnica de inseminação artificial implantada na rotina de seus criatórios e as inseminações estavam sendo realizadas em tempo fixo e com sincronização de estro, a fertilidade ficou abaixo do esperado. Isto, associado ao pequeno número de colaboradores, certamente levará a uma baixa acurácia das avaliações deste primeiro grupo de reprodutores em teste.


Além do teste de progênie, outro plano de ação fundamental do Programa de Melhoramento Genético de Caprinos Leiteiros consistia na estruturação do Arquivo Zootécnico Nacional de Caprinos Leiteiros. Depois de longa negociação com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e as associações de criadores, no final de 2006, foi firmado um convênio entre o MAPA e a Associação dos Criadores de Caprinos e Ovinos de Minas Gerais (ACCOMIG/ Caprileite) para implantar o Controle Leiteiro Oficial e criar o Arquivo Zootécnico de Caprinos Leiteiros, tendo a Embrapa Caprinos e Ovinos como depositária, no âmbito do teste de progênie de caprinos leiteiros.


O arquivo está estruturado e sendo alimentado com dados mensais de controle leiteiro oficial de 20 rebanhos localizados nos estados de Ceará, Espírito Santo,  Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Outros quatro rebanhos do estado da Bahia terão início do controle leiteiro oficial em junho de 2010. É importante mencionar que a implementação do controle leiteiro somente foi possível a partir de uma inédita parceria entre a ACCOMIG/Caprileite e a Associação dos Criadores de Gado Holandês de Minas Gerais (ACGHMG), que permitiu a utilização de todo o “know-how” e infra-estrutura da ACGHMG, para a execução dos controles leiteiros e informação para o  Arquivo Zootécnico. Assim, este arquivo, está sendo fundamental para a conclusão do teste do primeiro grupo de reprodutores e foi a base para a reformulação do Programa de Melhoramento Genético de Caprinos Leiteiros que aconteceu em 2009.


As informações que estão sendo  colhidas pelos controladores correspondem à identificação animal, ao cadastro de coberturas e parições, produção de leite, gordura, proteína, lactose e extrato sexo total e contagem de células somáticas.

Os dados de escrituração zootécnica e do controle leiteiro oficial estão sendo organizados, através do Sistema de Gerenciamento de Rebanhos do PMGCL, desenvolvido pela Embrapa Caprinos e Ovinos.


Segundo Santos et al. (2009), até novembro de 2009 haviam sido realizados 4.678 controles leiteiros, com uma periodicidade média de 45 dias, sendo que 495 lactações com informações de produção foram concluídas com médias de produção total de leite na lactação, produção de leite em 305 dias de lactação, duração de lactação e produção média diária na lactação de 650,73 kg, 588,77 kg, 259,10 dias e 2,43 kg, respectivamente.


Além disso, a ACGHMG está emitindo certificados oficiais de desempenho para cada lactação fechada, o que tem deixado os criadores bastante satisfeitos, pois representa uma forma de divulgação e agregação de valor aos seus animais/criatórios.

Dificuldades
Várias lições foram  extraídas  a partir das dificuldades inicialmente encontradas no estabelecimento do PMGCL. Dentre estas podem ser destacadas:

a)Uma adequada estrutura organizacional para a realização de um controle leiteiro confiável é condição indispensável para o sucesso do teste de progênie. Isto porque, além de permitir um adequado controle da produção de leite e de toda a escrituração zootécnica nos rebanhos colaboradores, o controle leiteiro oficial se constitui num instrumento de divulgação dos criatórios, ajudando a atrair rebanhos de selecionadores para colaborar com o teste de progênie.


b) Não existem condições operacionais para que a execução de todas as visitas de acompanhamento e inseminações necessárias sejam feitas pelo corpo técnico da EMBRAPA, dentre outros motivos, por não ser esta a missão destes técnicos.


c) Logo, a plena realização do teste de progênie somente seria possível com uma maior aproximação e colaboração entre os criadores e suas associações e pesquisadores. Neste sentido, é fundamental a apropriação do projeto por parte dos criadores e suas associações, através do planejamento participativo, permitindo a adequada divisão de tarefas.


d) Para que tal apropriação fosse possível, seria necessária a realização de “workshops” e treinamentos dos corpos técnicos das associações e dos criadores.


e) O papel da EMBRAPA deveria ser o de co-responsável, com foco nas suas missões de pesquisa, desenvolvimento e inovação. Assim, deveria caber à EMBRAPA, o delineamento e o ajuste participativo do programa, a transferência de tecnologia em inseminação artificial, o treinamento para a correta coleta de dados zootécnicos e a gestão do banco de dados do Arquivo Zootécnico Nacional de Caprinos Leiteiros, com a realização das análises estatísticas, avaliações genéticas, divulgação dos resultados e orientações.


f) O papel das associações de criadores deveria ser de co-responsável, cabendo a estas a operacionalização do programa, coordenando/executando o controle leiteiro, a coleta e a distribuição de sêmen e o acompanhamento da coleta dos dados zootécnicos e das inseminações.

Após estas reflexões, realizou-se uma reunião na sede da ACCOMIG/Caprileite, Belo Horizonte – MG, nos dias 06 e 07 de dezembro de 2007, um workshop na sede da Embrapa Gado de Leite, em Juiz de Fora  – MG, no dia 08 de janeiro de 2008 e uma reunião com membros da equipe técnica do Programa de Melhoramento Genético do Zebu Leiteiro. Estas reuniões tiveram o objetivo de realizar  ajustes metodológicos no tocante ao Arquivo Zootécnico / Controle Leiteiro e ao Teste de Progênie e, principalmente, traçar uma nova estratégia de ação para o Programa de Melhoramento Genético de Caprinos Leiteiros.

A partir daí o PMGCL foi reestruturado, fundamentado no fortalecimento da parceria entre Embrapa Caprinos e Ovinos, Embrapa Gado de Leite, Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Universidade de Brasília, ACCOMIG/Caprileite, ACGHMG e ABCC, entre outros. O foco foi o desenvolvimento de ações plenamente complementares e fundamentais à consolidação do Teste de Progênie. Neste sentido, novos recursos foram buscados junto ao MAPA, à EMBRAPA e aos criadores envolvidos para fazer frente aos custos inerentes a um programa desta natureza e um novo projeto com recursos do Macroprograma 2 da EMBRAPA foi aprovado.

Ações de reestruturação do programa
Dentre as ações de reestruturação do programa, destacam-se:

a)  Enriquecimento do Arquivo Zootécnico  - liderado pela coordenação do Controle Leiteiro Oficial, tendo o papel fundamental de identificar rebanhos colaboradores do teste de progênie e dar o acompanhamento necessário, coletando as informações de controle leiteiro e reprodutivo nos rebanhos e repassando-as à Embrapa Caprinos e Ovinos, instituição depositária do AZNCL, conforme convênio estabelecido entre ACCOMIG/Caprileite e o MAPA. Este enriquecimento já está em curso com a inclusão de informações relativas às características de constituintes do leite (proteína, gordura, lactose, extrato seco e contagem de células somáticas), além daquelas que já vinham sendo controladas. Além disso, um sistema de coleta de dados de características lineares de tipo será discutido com as Associações de Criadores e implementados junto aos rebanhos colaboradores do Teste de Progênie. Neste processo de implantação, será realizado o treinamento dos técnicos envolvidos nas avaliações. Este enriquecimento, além de dar o devido suporte ao Teste de Progênie, permitirá a realização de estudos, visando estimativas de parâmetros genéticos para produção e qualidade do leite e características de conformação/tipo em caprinos leiteiros, gerando informações para a orientação do processo de seleção nos rebanhos participantes do Programa de Melhoramento Genético de Caprinos Leiteiros.


b) A consolidação do Teste de Progênie de Caprinos Leiteiros continua sendo responsabilidade da Embrapa Caprinos e Ovinos, com a co-responsabilidade da ACCOMIG/Caprileite, ABCC, Embrapa Gado de Leite e outros parceiros. O objetivo é o de promover o melhoramento genético das principais raças de caprinos leiteiros exploradas no Brasil por meio da identificação e seleção de reprodutores jovens geneticamente superiores para as características de produção e de conformação. Entre as atividades mais importantes do teste de progênie, destacam-se a seleção dos reprodutores jovens a serem testados, a partir das informações do AZNCL, a coleta, a criopreservação e a distribuição do sêmen dos reprodutores em testes, o treinamento dos colaboradores em inseminação artificial de cabras, a coleta e o armazenamento das informações produtivas e reprodutivas através do AZNCL, as avaliações genéticas e a divulgação dos resultados.


c) Outras ações fundamentais estão sendo tomadas no sentido de consolidar a técnica de inseminação artificial em caprinos, por meio da geração de conhecimentos adequados à realidade das raças em teste e difundir este conhecimento na forma de treinamentos, de modo a garantir sustentabilidade do programa de melhoramento genético em caprinos leiteiros.


d) Dentro do novo projeto, foi elaborado um plano de ação intitulado “Estudo de genes candidatos de importância econômica para caprinocultura de leite e estimativa de erros genealógicos em rebanhos experimentais e comerciais”. Com este plano de ação objetiva-se:


1) Criar um Banco estratégico de amostras (tecidos/ DNA) e dados produtivos que servirá para futuros estudos de associação entre marcadores moleculares e características de interesse econômico;

2) Quantificar o erro de pedigree nos rebanhos que participarão do teste de Progênie por meio de um painel de marcadores moleculares do tipo microssatélites;

3) Estimar a diversidade genética existente dentro e entre rebanhos leiteiros a partir do uso de genes candidatos relacionados a características produtivas em caprinos de leite;

4) Realizar a prospecção de novos marcadores em genes específicos das raças/rebanhos brasileiros.

e) Por fim, foi elaborado outro plano de ação com os objetivos de:

1) Investigar os principais sistemas de produção de leite caprino no Brasil e determinar objetivos econômicos de seleção para os mesmos;

2) Obter pesos econômicos para as principais características biológicas que têm impacto na rentabilidade dos sistemas de produção de leite no Brasil;

3) Construir índices de seleção a partir de diferentes estruturas populacionais.

Hoje, o PMGCL encontra-se em sua segunda fase, com os reprodutores selecionados para o 2º grupo de teste de progênie e a coleta do sêmen em fase de conclusão, com distribuição do sêmen para os rebanhos colaboradores prevista para meados de 2010.

O convênio com o MAPA para a realização do controle leiteiro oficial vem sendo renovado a cada ano e o arquivo zootécnico continua sendo enriquecido. O banco de DNA está sendo constituído e atualmente contém amostras de material genético de 767 animais. Os estudos de caracterização dos sistemas de produção de leite caprinos mais comuns no Brasil estão em curso e dentro em breve devem estar disponíveis as primeiras estimativas de pesos econômicos para as principais características biológicas que afetam a rentabilidade da produção de leite caprino no Brasil.


Programa de Melhoramento dos Caprinos de corte
A atual pressão exercida pelos frigoríficos bem como pelo mercado de carne caprina no Brasil tem sido bastante significativa. No entanto, o setor produtivo não tem respondido de forma satisfatório com oferta de animais que produza carcaça de qualidade nem atendem com regularidade esse mercado. Isto tem causado um artifício na comercialização da carne caprina onde essa é substituída pela  carne ovina. O setor tem cobrado dos criadores  atitude mais proativa  na utilização de métodos de criação e seleção mais eficientes do que os ainda praticados.


No que  diz respeito aos genótipos utilizados nesse processo, é de fundamental importância que se desenvolvam e se intensifiquem ações de seleção e/ou cruzamentos voltados para  a melhoria dos animais ofertados e conseqüentemente das qualidades das carcaças e isso tem estreita ralação com o peso e ganho de peso, bem como para a precocidade  de  acabamento, aliadas a melhoria da nutrição/alimentação, reprodução, adaptabilidade e a sanidade animal.

  
Para contribuir com esse processo os técnicos  envolvidos na pesquisa tem buscado duas ferramentas do melhoramento a seleção de reprodutores caprinos  jovens avaliando seu desempenho individual através de Provas  Zootécnicas e estratégias de cruzamentos para produção de caprinos de corte.


No primeiro caso, Sousa et el. (2006) desenvolveu um método de avaliação individual para caprinos de corte. Este método foi  desenvolvido pela equipe da área de Melhoramento Genético de pequenos ruminantes da Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S.A e parceiros com apoio financeiro do BNB e FINEP e com a participação das Associações Brasileira de Criadores de Caprinos da Raça Boer – ABCBoer.


O objetivo da metodologia desenvolvida é avaliar o desempenho individual de caprinos de corte, por meio de Provas Zootécnicas, em confinamento, como forma de fornecer subsídios aos criadores para comparar o mérito genético de seus animais com os de outros criadores, municiando-os também de instrumentos auxiliares de seleção.

Para classificação final dos animais na prova, em categorias, é utilizado um índice com diferentes ponderações que contempla o ganho de peso médio diário, a área de olho de lombo, o perímetro escrotal, a espessura de gordura de cobertura e escore visual.


Outra ferramenta de auxilio a seleção de caprinos de corte disponível para os criadores e produtores é o GENECOC, desenvolvido por técnicos da Embrapa Caprinos e Ovinos, que tem como objetivo principal prestar  serviço de assessoria genética  aos produtores e criadores de caprinos e ovinos de corte. Segundo Lobo et al. (2010), a base do programa é estimular e assessorar os participantes na  escrituração zootécnica  de seus rebanhos, gerando informações seguras e confiáveis que possam ser utilizadas na seleção de seus animais. Para isto o programa utiliza um sistema de gerenciamento de dados através de um software em rede acessado via internet.   Para os rebanhos com estimativas de DEP, este software possui ferramentas de seleção de animais por mérito genético total, com a construção de um índice genético de seleção, e para a seleção dos acasalamentos que maximizam o ganho genético do rebanho, com controle da endogamia.  

                                                                     
Infelizmente, ambas as ferramenta de auxilio a seleção de caprinos de corte ainda não estão inseridas, de forma plena, a um programa nacional de melhoramento genético, com a efetiva participação da Associação Brasileira de Criadores de Caprinos e suas afiliadas, bem como do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA.


Cruzamentos em caprinos de corte e recursos genéticos disponíveis
A  diversidade genética entre raças de caprinos existentes no Brasil pode fornecer combinações genéticas apropriadas para uma variedade de situações de produção, manejo e de mercado. Acredita-se que para a maioria dos sistemas de criação praticados no País, as raças Boer, Savanna,  Anglo– Nubiana, e as cabras Sem Padrão Racial Definido (SPRD)  tem sido as mais utilizadas em cruzamentos para produção de carne.


A equipe de pesquisadores da Emepa tem realizados vários trabalhos de cruzamentos visando identificar as melhores alternativas de produção de carne caprina fazendo uso de diferentes estratégias de cruzamentos. 


Para realização destes trabalhos a Emepa contou com a parceria de varias instituições de fomento a pesquisa, como BNB, FINEP e CNPQ,  bem como outras instituições publicas e privadas, como UFPB, UFCG, SEBRAE e associações de criadores.


Durante a execução desses trabalhos  foram produzidos animais contemporâneos de cinco grupamentos genéticos formados a partir de cruzamentos com as raças Boer, Anglo Nubiana (AN), Moxotó (MO), além do grupo Sem Padrão Racial Definido  (SPRD) como, conforme apresentados a seguir.

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Para Sousa   et al. (2006) cruzamentos entre machos Boer versus fêmeas mestiças de 1/2 Anglo Nubiana + 1/2 SPRD proporcionaram melhores ganhos de peso, qualidade de carcaça  e conversão alimentar nos cabritos. A combinação de sistemas de cruzamento e terminação proporcionou redução na idade de abate e melhorar o rendimento e a qualidade da carcaça. No entanto,  os mesmos autores revelaram que há necessidade de continuidade dos estudos, incluindo a economicidade de sistemas de produção e outras estratégias de cruzamentos, visando um melhor posicionamento sobre a utilização desses genótipos.


Demanda de serviço técnico no setor
Percebe-se uma grande demanda, por parte dos caprinocultores, por profissionais da área de biotecnologia da reprodução (inseminação artificial, transferência de embriões). Na verdade, a grande maioria dos produtores brasileiros ainda faz uma grande confusão entre as técnicas de multiplicação animal e o melhoramento genético. Acreditam que pelo simples fato de estarem utilizando uma daquelas técnicas estão produzindo melhoramento genético. Como agravante, esta confusão é, em parte, fomentada pelos profissionais da área de multiplicação animal.


São poucos os criadores que buscam profissionais com sólido conhecimento em melhoramento genético animal, capazes de tratar da descrição dos sistemas de produção, definição de objetivos e critérios de seleção e delineamento de programas de seleção/cruzamentos de modo a maximizar o ganho genético e produzir animais com as características demandadas pelo mercado consumidor.


Há quase sempre uma visão de curto prazo, na qual os criadores investem em infraestrutura, biotecnologias reprodutivas e “marketing”, visando um retorno quase imediato com a venda de animais para reprodução.


Vale ainda destacar que, há uma clara desconexão entre os critérios de seleção praticados nos rebanhos de elite e as necessidades dos rebanhos comerciais. Para agravar este quadro, boa parte dos criadores de animais de elite é formadora de opinião e induz a execução de programas de distribuição de reprodutores e matrizes para pequenos criadores através da proximidade que têm de gestores públicos nas esferas federal, estadual e municipal. Todavia, na maioria das situações, os animais distribuídos não são os mais adequados para os sistemas de produção alvo.


Recursos humanos envolvidos e demanda de serviços técnicos
Sabe-se que o numero de melhoristas envolvidos hoje na atividade da  Caprinocultura é muito limitado, principalmente no setor privado. No  Nordeste estes profissionais estão vinculados nas instituições de ensino e de pesquisa, mas com pouco envolvimento  com as associações de criadores.  As ações de melhoramento demandadas nos estados são significativas, o que exige deles o planejamento e a execução das ações de melhoramento nos seus respectivos estados.


No entanto, para atender outros serviços, tais como o de extensão e de programas de fomento governamentais, seriam necessários um maior numero de profissionais dessa área.


Nível tecnológico empregado nos programasTanto o GENECOC quanto o Programa de Melhoramento Genético de Caprinos Leiteiros (PMGCL) utilizam fichas de escrituração zootécnica padronizadas para  as coletas das informações de identificação animal, produtivas e reprodutivas. No PMGCL o controle leiteiro é oficial e realizado por instituição credenciada junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Os dados coletados são organizados em um banco de dados PostgreSQL, através de software desenvolvido nas linguagens PHP/HTML/Javascript e com acesso restrito acesso restrito via internet (Lôbo et al., 2010), sendo que cada criador tem seu próprio login e senha, podendo gerar diversos tipos de relatórios zootécnico-gerenciais. A partir dos bancos de dados são realizadas avaliações genéticas utilizando as técnicas estatísticas dos modelos mistos sob modelo animal, com a metodologia BLUP (Melhor Predição Linear Não Viesada).


Nas avaliações individuais de caprinos de  corte, através das Provas Zootécnicas, (Sousa et et., 2006 ), tem utilizado técnicas da ultassonografia, em tempo real, por meio de software de avaliação de carcaça BIA PRO PLUS, da empresa Designer Genes Technologies.


Ao final de cada prova utilizam-se avaliações visuais por escore para as características: Tipo Racial, Musculatura, Conformação, Precocidade de Acabamento e Aprumos.  Para o armazenamento dos dados e cálculo do índice final da prova está sendo desenvolvido um Software (PZTEC), utilizando-se linguagem computacional modernas.


Perspectivas de evolução do Setor
Na produção leiteira
Apesar de 75% da produção  leite no Brasil  ter origem na região Nordeste, esta produção envolve um  número maior de cabras em lactação, sendo menor a produtividade.

Vale ressaltar que, recentemente, tem se verificado a expansão do mercado formal de leite caprino, tanto na região Nordeste, onde existem programas governamentais incentivando a atividade, quanto nas regiões Sul e Sudeste, onde se verifica um maior mercado demandante por leite e derivados do leite caprinos. Logo, há uma demanda por aumento da produção e da produtividade e, portanto, demanda por animais de mais elevado potencial genético, tanto para as condições mais comuns do semiárido nordestino quanto para os sistemas de produção mais intensivos da região sudeste. No entanto, a região que produz maior quantidade de leite tem apenas um rebanho participando do Teste de Progênie oficial.


Na Paraíba, o governo do estado estar implantando  seis núcleos de melhoramento e multiplicação de caprinos de leite como forma de suprir as demandas por reprodutores na região produtora. Esses núcleos serão  supridos por sêmen de reprodutores puros da Emepa-PB e de outros criadores e terão acompanhamento e coletas de dados, principalmente o controle leiteiro. Assim, seria uma ótima oportunidade para iniciar o teste de na região com maior produção de leite do Brasil. O programa contempla ainda orientação sobre as estratégias de cruzamentos para produção cabras de leite, evitando assim, o uso de cruzamentos absorvente, que não parece interessante para maioria dos rebanhos envolvidos.


Na Produção de caprinos de corte  As perspectivas para a Caprinocultura de corte são muito boas, devido  à crescente demanda por carne caprina, tanto dos consumidores como dos programas governamentais da região Nordeste. Isto leva a uma grande demanda por reprodutores com potencial para produção de carne adaptados para  diferentes condições de produção.  No momento essa genética estar sendo suprida por reprodutores importados e suas progênies, principalmente da raça Boer, mas a raça Anglo Nubiana tem tido um importante papel na produção de animais mestiços de corte.  Neste contexto, é essencial a implementação de programas de melhoramento genético, através de  avaliação genética, nos moldes do GENECOC ou por meio de avaliações individuais de futuros reprodutores jovens identificados, através das Provas Zootécnicas.


Os cruzamentos orientados têm ainda importante papel na produção de carne, no entanto, a falta de reprodutores melhorados é ainda  um grande entrave para os ganhos que seriam obtidos com reprodutores avaliados geneticamente. 


Recomendações de ações aos órgãos de desenvolvimento e fomento
Observa-se atualmente a atuação de um grande número de instituições no fomento às cadeias produtivas da Caprinocultura. Porém, na grande maioria das vezes, esta atuação se dá de forma  fragmentada, com abordagem pontual e pouca interação interinstitucional. Como conseqüência, a aplicação dos recursos públicos acaba, muitas vezes, tendo impacto limitado e as ações são descontinuadas.

Felizmente, começa-se a verificar um esforço no sentido de integrar as ações das diversas instituições.


Do ponto de vista do melhoramento genético,  as ações desenvolvidas por aquelas instituições envolvem, de algum modo, uma estratégia de alteração do perfil genético da população alvo. Na quase totalidade dos casos, a abordagem envolve a distribuição de reprodutores e/ou matrizes de raças especializadas para produção de carne e/ou leite com vistas aos cruzamentos  com a população caprina localmente adaptada.

Porém, por falta de uma orientação, na grande maioria das situações, após um primeiro momento satisfatório, em função da heterose provocada pelo cruzamento na população F1, esta abordagem poderá ser inadequada se não houver mudanças nos padrões de produção ou na estratégia de cruzamento, pois do contrário, o cruzamento absorvente produzirá genótipos não adaptados as condições mais hostis do semiárido nordestino. Diante deste quadro, cabe-nos recomendar, aos órgãos de desenvolvimento e fomento atuantes na caprinocultura, que as ações que envolvam estratégias de cruzamentos sejam mais proativas para evitar uma  alteração da constituição genéticas dos rebanhos inadequada para os atuais sistemas de produção da região semiárida.


É importante que essas ações sejam planejadas, acompanhadas e gerenciadas, por profissionais com  adequado conhecimento em melhoramento genético animal.


Adicionalmente,  nas ações que envolvam distribuição de animais de raças exóticas especializadas, deveriam  ser  incentivadas estratégias de conservação dos recursos genéticos localmente adaptados, com foco na  valorizando comercial dos seus produtos.


Como abordado por Sousa et. al. (2007), para promover  e/ou consolidar eficientes programas de melhoramento genético  para  caprinos de corte  e leite  no Brasil, o primeiro passo seria estabelecer objetivos e critérios de seleção fundamentados no produto final a ser oferecido no mercado.


Os programas de melhoramento genético de caprinos deverão ter o foco na produção de carne e leite e  na comercialização de reprodutores, pois  existe um  grande mercado  para reprodutores para uso comercial, principalmente para serem utilizados  em cruzamentos, No entanto,  esperamos que  todas essas  ações não  sejam  iniciativas isoladas de  um  grupos de pesquisadores e de alguns criadores. O programa de melhoramento dos caprinos de leite, através do Teste de Progênie, começa ter uma configuração que permitirá a sua consolidação no futuro, mas ainda se apresenta muito frágil na dependência de recursos federais. Esta realidade precisa ser modificada para sua sustentabilidade no longo prazo, mas  reconhece-se a necessidade do papel indutor do estado neste primeiro momento. As iniciativas para caprinos de corte estão longe de ser implementadas no formato de um programa de melhoramento, pois, os criadores ainda não mostraram interesses reais por essa ação.


No geral persistem alguns questionamentos; por exemplo:  (i) quais os objetivos e critérios de seleção para o melhoramento desses  rebanhos? (ii) qual  é  a relação desses programas com os rebanhos comerciais? (iii) que abrangência e continuidade essas iniciativas tiveram ou se propõe a ter, sem depender dos recursos da pesquisa ou de convenio com o MAPA?  (iv) que tipo de animais os criadores estão colocando nas avaliações? (v) existe seleção previa? (vi) que representatividade tem esses animais dentro do rebanho?  (vii) os criadores estão realmente fazendo uso dessas avaliações? (viii) qual o grau de confiabilidade das informações coletadas, principalmente de parentesco? (ix) os criadores estão realmente interessados nessas  avaliações? (x) os criadores saberão esperar os resultados dessas avaliações a médio e longo prazo? (xi) qual a participação efetiva das associações de criadores e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) nesses programas? 

 
Considerações Finais
Os criadores brasileiros, em geral, anseiam por resultados imediatos e sabe-se que os investimentos em melhoramento genético animal são onerosos e de longo prazo, mas com grande retorno econômico. Nessa  área  da Caprinocultura, deparamos ainda com outros dificuldades, como o comprometimento dos criadores com os programas, qualidade de mãode-obra, capacidade de  gestão  dos estabelecimentos, pouca  reivindicação do mercado consumidor por produtos de qualidade.


Assim, os poucos avanços alcançados até o momento devem ser creditada  à renúncia de alguns pesquisadores, técnicos e de poucos criadores.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Caprinocultura no Brasil: algumas estatísticas e evidências

 

A influência do setor agropecuário na economia brasileira é inquestionável. Levando-se em consideração as séries estatísticas históricas, observa-se que o setor primário tem respondido por volta de 10% de toda a riqueza gerada no Brasil. Quando se computam todos os setores que são impactados, ou seja, quando são consideradas todas as transações que ocorrem ao longo das cadeias produtivas, no que se costuma chamar de agronegócio, historicamente observa-se que em torno de 30% do que é produzido no Brasil tem origem, de alguma forma, na agropecuária.

Segundo dados do Censo Agropecuário Brasileiro de 2006, divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), no Brasil, cerca de 32 milhões de pessoas moram na zona rural, sendo que 47% da população rural brasileira vivem na região Nordeste. Ou seja, cerca de 15 milhões de pessoas vivem na zona rural do semiárido nordestino. A segunda região com maior população rural é a região Sudeste que abriga 6 milhões de pessoas nos seus diversos recantos. É sabido que a renda de um estabelecimento rural no Nordeste gera a metade da renda bruta de um estabelecimento do Sudeste, reforçando a desigualdade e assimetria social e econômica do Brasil.

Diante do cenário de desigualdade e de falta de oportunidade que caracterizam o Brasil, em especial o meio rural, urge a necessidade de se encontrar alternativas viáveis de geração de emprego e renda para as diversas regiões do país. A caprinocultura apresenta-se como uma dessas alternativas que pode ser utilizada para mudar o cenário de pobreza que tem caracterizado a zona rural do Brasil ao longo da história.

A caprinocultura é uma atividade que pode ser explorada em qualquer um dos 5.554 municípios brasileiros. Segundo o Censo Agropecuário de 2006, existem 7.109.052 cabeças de caprinos no Brasil que estão espalhadas por todas as 508 microrregiões brasileiras. Existem 286.553 estabelecimentos que criam caprinos no Brasil, resultando em um número médio de 25 animais por estabelecimento. De outro lado, os 18.008 estabelecimentos que produzem leite de cabra prospectaram em 2006, cerca de 21.275.000 litros de leite, indicando que cada estabelecimento produz 1.181,41 litros por ano. Transformando em produção diária, observa-se que cada propriedade produz, em média, cerca de 3,24 litros de leite de cabra por dia.

Isto posto, pode-se concluir que a caprinocultura é uma atividade predominantemente de pequenos e médios produtores e que pode ser estimulada em todos os municípios brasileiros, do Oiapoque ao Chuí. Logicamente, levando-se em consideração as aptidões naturais inerentes a cada região. Portanto, a criação de caprinos apresenta-se como uma alternativa viável de geração de emprego e renda e como uma ferramenta eficiente para diminuir a concentração de renda no Brasil, em especial no meio rural. Para tal, faz-se necessário que os tomadores de decisões políticas vislumbrem e acreditem nas oportunidades proporcionadas pela atividade.

17/01/2011

Fonte:Embrapa Caprinos e Ovinos

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Caprinos do Nordeste: uma visão realista

 

Os primeiros animais domésticos chegaram ao Brasil na época da colonização. Os animais trazidos da Europa não tinham especificação de raça, conceito desconhecido naquela época. Segundo historiadores, tratava-se de animais de pequena estatura e rústicos, para comerem pouco e sobreviverem durante o trajeto marítimo até a América.


Durante anos convivendo com as condições adversas do sertão nordestino, estes animais que aqui se estabeleceram adquiriram características de adaptação e resistência ao calor, essenciais para a sobrevivência. Assim sendo, tais animais formaram diversos grupos com características próprias, isolados geograficamente em seu habitat, dando origem aos ecotipos nordestinos. O desenvolvimento destas raças locais deu-se mais através do isolamento genético e da seleção natural do que pela intervenção do homem.


Desses animais, cinco ecotipos são citados: Moxotó, Marota, Canindé, Gurguéia e Repartida. Dentre esses grupos, talvez o mais tradicional seja a raça Moxotó, originária de Pernambuco, homologada em livro de registro como raça desde 1977. Segundo dados da literatura, são os tipos Repartida e Marota que se encontram em estado mais crítico de preservação. As características principais inerentes aos tipos naturalizados de caprinos são a rusticidade, a prolificidade e a alta qualidade do couro.
Nos últimos cinqüenta anos, o processo de modernização da atividade agropecuária foi fomentado por agencias de desenvolvimento regional que, utilizando enfoques reducionistas da realidade rural, apoiaram vários projetos oficiais visando incentivar de forma sistemática a importação de animais e material genético. Tais aplicações de recursos públicos aceleraram a erosão da biodiversidade caprina do Nordeste brasileiro.


Pesquisa
Pecuaristas que valorizaram a criação tradicional conservaram para o futuro animais ditos naturalizados, termo usado considerado que são descendentes dos tipos trazidos ao País na época da colonização. No mundo científico, grupos liderados pela FAO iniciaram o processo de monitoramento da biodiversidade agropecuária ao constatarem o avanão no processo de erosão genética.


A razão para esse esforço de conservação na Europa é manter a flexibilidade para atender a mudanças de demanda do mercado e do sistema produtivo. No Brasil, a Embrapa Recursos genéticos e Biotecnologia (Brasília - DF) lanãou o que hoje se denomina Rede Nacional de Recursos genéticos (RENARGEN), abraçando e gerenciando vários projetos preexistentes nas Unidades descentralizadas da Unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).


A Embrapa Meio Norte (Teresina - PI) iniciou o primeiro núcleo de conservação do Piauí em 1980, no município de Castelo do Piauí. Nessa base física a Unidade mantém 200 representantes de caprinos Marota, que podem representar o último grande rebanho desae ecotipo do Brasil. Em 2005, mais um núcleo foi incorporado ao patrimônio da Embrapa Meio-Norte. O rebanho Cabra Azul com 48 animais adultos constituíram o núcleo de conservação da Cabra Azul, ecotipo também fortemente ameaçado.


A reserva estratégica de tal patrimônio, repositório de genes inerentes a rusticidade e adaptação, pode garantir a sobrevivência da atividade para os pequenos agricultores familiares. A avaliação do genoma de animais autóctones, pela sua caracterização molecular, fornecerá informação necessária a programas de melhoramento genético no futuro, com grande utilidade para o pequeno e médio produtor rural da região, fornecendo-lhe carne, leite e pele sem a necessidade de grandes investimentos.
Sendo assim, a Embrapa Meio Norte consolida-se como uma importante instituição de pesquisa na conservação de recursos genéticos, principalmente, para a pecuária sustentável do semi-árido.


Atualidades
Hoje, com uma visão mais sistêmica do meio rural do Nordeste, vislumbra-se prejuízos ecológicos e sociais da perda da diversidade de recursos genéticos. Os sistemas de produção tradicionais, ecológicos e no âmbito da agricultura familiar são grandes beneficiários dos recursos genéticos autóctone, agregando valor social e ambiental aos produtos originários dos caprinos naturalizados. A possibilidade de agregar valor ao caprino através de certificações de origem acenam com umfuturo promissor para os ecotipos caprinos do Nordeste.


Curiosamente, observa-se um fluxo contínuo desse patrimônio genético para os rebanhos particulares. Os criadores do Nordeste começam a se mobilizar em associações de raças naturalizadas e algumas feiras e exposições desses animais começam a aparecer no cenário do agronegócio.


O preço de mercado de bons animais naturalizados chega a ser competitivos com o das raças importadas já estabelecidos, como a Anglo-nubiana. Tal mudança pode ser favorável para retirar o recursos genético do perigo de extinção, pois a preservação privatizada “on farm” é uma estratégia de conservação muito eficiente e auto-sustentável.


Entretanto, o sistema de produção tradicional, quase absoluto em algumas áreas com restrições severas de acesso à água e alimentação, embora atingido pela onda de cruzamentos apregoadas por agentes de desenvolvimento, está longe de não depender de recursos genéticos autóctones.


Ao contrário, começa a haver uma deterioração completa de sistemas de produção até então recomendáveis, porém insustentáveis na sua aplicação. Assim, as pesquisas na área de melhoramento genético precisam avançar rapidamente para contornar essa falsa teoria de que a incorporação maciça de recursos genéticos gerariam sistemas produtivos eficientes para o semi-árido.


Estudos avaliando a eficiência (inclusive econômica) dos sistemas de produção sustentáveis, com recursos autóctones melhorados para o semi-árido, devem ser estimulados, como forma de garantir a sustentabilidade da produção e a conservação dos caprinos autóctones para todos.

 

Fonte: Embrapa (05/12/2005)

Autora: Adriana Mello de Araújo